Quando se fala em motivos para a prática de exercício físico, uma percentagem elevada de pessoas refere ter como objetivo “perder peso”. Existe o foco no número que aparece na balança, ou na roupa que deixou de servir como forma de medir o ganho de peso. Porém, sabemos que o que realmente as pessoas querem é perder massa gorda, dado ser esta que além de aumentar o risco de doenças crónicas, é, em termos estéticos, a parte que afeta mais a autoestima e qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, as pessoas tendem a pesquisar o melhor método de treino, e este tem sido um dos tópicos mais debatidos nos últimos anos.
A perda de peso está relacionada com a balança energética que é, de forma redutora, uma equação entre as calorias ingeridas e as calorias gastas. Para facilitar a compreensão de como o corpo consome calorias, podemos usar a analogia de uma bateria. Cerca de 60-70% das calorias gastas diariamente são utilizadas para manter o metabolismo basal, ou seja, a energia necessária para manter as funções vitais do corpo, como o funcionamento do coração, pulmões e outros órgãos. Aproximadamente 5-10% das calorias são gastas na termogénese dos alimentos, o que representa a energia necessária para digerir os alimentos. Entre 10-15% da energia é consumida na termogénese da atividade física espontânea, que inclui atividades diárias como caminhar até ao trabalho, cozinhar, realizar tarefas domésticas e pequenas reparações. Finalmente, o restante das calorias, entre 5-25%, é gasto na prática de exercício físico estruturado. Assim, se por exemplo o nosso corpo precisa diariamente de 2000kcal e nós ingerimos aproximadamente 2000kcal, então tendemos a ter um equilíbrio em que não ganhamos nem perdemos peso. Mas se existe desequilíbrio entre os pratos na balança, então podemos ganhar ou perder peso, dependendo para onde tende o “peso”.
Então qual o melhor método de treino para que haja maior gasto calórico comparado com a ingestão calórica para a perda de peso? Existem evidências que indicam que o treino de força pode ser um método eficiente na perda de gordura de acordo com investigadores australianos. Olhando para outro estudo, publicado em 2013, o treino cardiorrespiratório pode ser um método eficiente na perda de gordura. Um estudo mais recente realizado por investigadores da Universidade de Guangzhou mostra que o Pilates pode ser um método eficiente na perda de gordura, assim como a dança, de acordo com investigadores da China. Uma meta-análise publicada em 2018 também indica que o treino de alta intensidade pode ser um método significativamente eficiente na perda de gordura.
Como dá para perceber pela literatura científica, existem vários métodos de treino que são eficientes na perda de peso. Nenhum é, inerentemente melhor que o outro, dado os métodos de treino serem eficazes na perda de peso. O maior destaque vai para as calorias. Tudo somado, o que conta no final é que haja um défice calórico, em que a pessoa gasta mais calorias, através de atividade física, do que aquelas que ingere. Assim, em vez de estarmos focados no melhor tipo de treino para a perda de peso, devemos escolher qual das opções disponíveis desperta em nós maior interesse e gosto em fazer. Sabe-se que tendemos a repetir comportamentos dos quais retiramos prazer e criamos aversão a comportamentos que nos proporcionam dor ou desprazer. Assim, se a pessoa fizer um tipo de treino de que gosta, a probabilidade de manter a frequência e adesão é superior do que fazer um tipo de exercício físico do qual não gosta nem tolera o esforço necessário.
O prémio vai para o tipo de treino que lhe dá prazer dado ser esse o “segredo” para a perda de peso e para a adesão ao exercício físico a longo prazo.
Referências:
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