O xadrez político nacional teve, na semana passada, três momentos altos. A apresentação da proposta de Orçamento de Estado (que já não tem o brilho de outrora e diria mesmo que é um documento pintado de ideologia), a estreia de Pedro Nuno Santos como comentador na SIC Notícias, a entrevista de Luís Montenegro à CNN. Pelo meio ainda houve tempo para uma sondagem que dá conta de que, num cenário de eleições legislativas, o PS voltaria a ser o partido mais votado, mas longe da maioria absoluta.
Com Montenegro a não se afirmar nas sondagens e com Carlos Moedas a movimentar-se para o xeque-mate depois das Europeias, abrem-se as apostas sobre quem será o próximo líder do PSD, e o que fará o PS caso Moedas ganhe as eleições internas do PSD e abandone a liderança da Câmara Municipal de Lisboa.
Neste último cenário, e dado que a coligação que governa a Câmara da capital não tem maioria, as apostas assumem dois caminhos: o PS força eleições intercalares à Câmara e lança Marta Temido; o PS deixa a coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) terminar o mandato sob a gestão do democrata cristão Filipe Anacoreta Correia, na esperança de que o caminho fique mais fácil para a ex-ministra da Saúde e atual líder da comissão política concelhia de Lisboa do PS.
Alguns apostadores, mais tímidos, abrem uma terceira linha. Uma vez ganho o PSD, e para não carregar o ónus de ter entregado Lisboa aos socialistas, Carlos Moedas passa a acumular a liderança do PSD com a gestão da maior câmara do País. Não seria algo novo nem tão pouco ousado. Jorge Sampaio e António Costa já ocuparam as duas cadeiras em simultâneo.
No meio de tudo isto, há como que um elefante. Um elefante que já foi primeiro-ministro, que continua a fazer bater corações laranja e a fazer suspirar muitos portugueses, que adora dar aulas, que prometeu à mulher que não voltava à política antes de a filha completar 18 anos, que é conhecido por ser um executivo e se sente bem na pele de primeiro-ministro: Pedro Passos Coelho. Ora se Passos der passo em frente para liderar o PSD, Moedas dá passo atrás e mantem-se na Câmara de Lisboa.
Neste cenário as peças do xadrez têm de ser revistas uma a uma, pois surgem dúvidas: onde fica Marta Temido? Sem hipótese de ganhar Lisboa, vai para a Europa ou assume-se como mais uma sucessora de Costa?
Perante peões, torres, cavalos e até um elefante, onde fica Montenegro? Só lhe resta fazer xeque e ganhar as eleições europeias, nem que seja por poucochinho.
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