Ao ler os hectares de área ardida já este ano – cerca de 20 000 – fui reler este meu texto de há precisamente 1 ano. Muito pouco, ou nada, mudou desde então!
É certo que o presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil diz que se tem trabalhado e “muito na prevenção e na estratégia”, mas a paciência que este Brigadeiro-General pede para se obter resultados há muito que se perdeu.
Aqueles que ano após ano vivem sobressaltados por via dos incêndios, há muito que começaram a desistir. É o caso do Luís. Recordam-se? Era o futuro da aldeia, mas preferiu emigrar para a Suíça porque se cansou das promessas de circunstância aquando das visitas políticas de verão, em época de incêndios.
Curiosamente, a aldeia do Luís voltou uma vez mais a ser ameaçada pelas chamas. Por ali, onde em 2021 foi inaugurada uma torre de vigia com 16 metros de altura com assinatura de Siza Vieira, tudo está agora coberto com manto preto, os passadiços em madeira, bem como todas as infraestruturas desportivas – investimentos de milhares de euros efetuados pelas autarquias locais – estão agora queimados. Na verdade, resta a torre de vigia, que é feita em ferro e betão.
Este cenário repete-se um pouco por todo o país. Porquê? E porque continuamos a falhar em cenários como aquele que vivemos em cada verão? O que falha?
Não tenho a resposta, mas dou por mim a pensar como pode o mesmo país que organiza com estrondo as JMJ, um Euro 2004 ou uma EXPO’98, que é case study na vacinação COVID’19, não consegue proteger a sua floresta, um dos seus recursos naturais mais ricos e importantes?
Gouveia e Melo, ex vice-almirante, revelou várias vezes que o elemento principal do sucesso da vacinação em Portugal foi uma comunicação “pragmática e pensada”, que transmitia urgência e “espírito de combate”. Porque não seguir o modelo? No comando da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) já temos um militar (ainda que na reserva). Não poderá este senhor voltar a vestir o camuflado e adaptar uma estratégia ganhadora enquanto há floresta em Portugal? Ou estará o país condenado a ser terreno para construção de megas centrais de energia solar?
E já agora, acabem com os Bombeiros Voluntários e tratem estas corporações com o profissionalismo que lhe exigimos.
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