Os erros dos padres não afetam a fé?!
Sou agnóstico, mas tenho alguma inveja de quem tem fé.
Nestes dias de Jornada Mundial da Juventude, em que o Chefe da Igreja Católica está em Portugal, dou por mim a pensar no que move multidões. Dou por mim a tentar perceber o que continua a mover multidões para o Santuário de Fátima – e muitos fazem o caminho a pé –, um santuário Mariano que não sendo o maior do mundo é um dos mais importantes na estrutura da igreja. Sinto inveja daquelas multidões. O que as move? A fé, dizem.
Num momento em as notícias relatam abusos por parte de alguns membros do clero, erros que são reconhecidas pelo próprio Chefe da Igreja Católica, só posso dar chapelada a um líder que não abafa os erros e que humildemente pede desculpa, rompe protocolos para estar próximo dos seus, que não se cansa de repetir que “há espaço para todos”.
E, por falar em espaço tenho de dar os parabéns à organização da JMJ.
Já muito se falou e criticou aspetos como o esforço financeiro subjacente a um evento que muitos consideram privado, a tolerância de ponto em Lisboa (que aqui critiquei), as alterações à rotina diária de quem vive nos locais por onde o Chefe da Igreja Católica passa ou os jovens estão alojados. Mas, uma coisa é certa: o país que organizou a Expo’98, o Euro 2004 voltou a demonstrar ao mundo que sabe organizar grandes eventos, que é um país seguro, que aqui vivem e convivem de forma pacífica pessoas de todos os credos e continentes.
Se pudesse colocar este evento numa balança diria que o prato da logística está, até à hora a que escrevo este texto, a deixar orgulhoso qualquer português. E que o prato do impacto económico não está a corresponder ao desejado. Na capital os restaurantes (não low cost) e hotéis não estão a colher os frutos planeados para esta altura do ano. Os hotéis apontam mesmo para uma taxa de ocupação com valores abaixo dos valores registados no período homólogo de 2022. Em Fátima, onde a hotelaria se apresenta praticamente esgotada tal como acontece todos os anos no mês de agosto, justifica-se o fraco impacto económico das JMJ com o facto de o público ser jovem e ficar alojado em alojamentos comunitários.
Ou seja, o balanço deste evento fica-se pela visibilidade que a JMJ poderá dar não só à capital, mas também ao país enquanto destino para férias. Será, portanto, um retorno a médio/longo prazo. Nada a que não estejamos habituados! Afinal, no Euro 2004 o investimento efetuado teve algum retorno mediático para a restauração e hotelaria, mas algumas das infraestruturas são hoje elefantes na sala. Elefantes que acredito não iremos encontrar terminadas as Jornadas.
Tenho esperança na imagem que o país deixará junto dos jovens, um público muito importante para qualquer destino turístico. A ver vamos se assim será! Por agora… os erros de alguns membros do clero português não afetam a fé de muitos milhões.
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