Justiça espetáculo foi o que assistimos esta semana quando, em plena manhã de quarta-feira, a TVI serviu-nos em direto imagens de Rui Rio na varanda do seu apartamento, na Boavista, no Porto, e num tom que lhe é familiar, a questionar se já teria chegado o carro celular e a afirmar que “se é TVI, vou chamar a SIC. Senão é concorrência desleal”. Isto, enquanto lá dentro a Polícia Judiciária fazia buscas por suspeitas de crimes como peculato e abuso de poder.
Esta situação, não sendo nova, começa a ser habitual: as investigações a alguns estratos da sociedade serem acompanhadas em direto pelos órgãos de comunicação social, que em muitos casos chegam primeiro ao local.
Sem querer tocar nas razões que levaram à decisão das buscas, que ocorreram também na sede nacional do PSD e na distrital do Porto, questiono-me sobre o que é afinal o segredo de justiça, até que ponto os investigados sabem ou não que no dia x haverá uma busca à sua residência, ao seu escritório, à sua casa de férias? Começo mesmo a questionar que justiça existe num país onde suspeitas sobre um cidadão assumem muito rapidamente contornos de culpa. Uma culpa que também muito rapidamente é julgada na praça pública, independentemente se perante a justiça é ou não arguido. Aliás não começo a achar, tenho a certeza deste método de incriminação.
Os últimos anos têm sido ricos em casos de justiça, em operações e investigações que tendem a mostrar que perante a lei todos somos iguais. Mas, este quadro não pode ser pintado a qualquer preço e sobretudo deveria ser seguida a máxima: o segredo é o segredo de justiça da investigação. Fazer passar informação sobre a busca de eventuais provas que possam certificar ou atestar eventuais crimes, sejam eles de sangue ou de colarinho branco, em nada engrandece as nossas forças policiais e sobretudo quem ordena essas mesmas buscas.
A terminar, e sabendo que os eventuais crimes datam de 2020, porquê só agora a investigação? E porquê apenas o PSD é investigado? Será que nos outros partidos os prevaricadores estão apenas na gestão autárquica?
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