Há uns dias, li um comentário numa rede social, na qual alguém afirmava que “há coisas que aprendi na escola que nunca me servirão para nada”. Mas será que isto é mesmo verdade? O saber, afinal, ocupa espaço?
Ao longo dos meus mais de vinte anos de experiência como professora, várias vezes fui confrontada com esta questão: “Professora, para que serve isto?”. Creio que esta pergunta reflete a tendência utilitarista da sociedade atual, em que parece que tudo tem de ser utilidade imediata ou aplicabilidade prática, o que, na minha perspetiva, é uma falácia.
Costumo responder a estes alunos que nem sempre o que aprendemos se reflete no imediato ou tem um resultado visível e direto mas, no futuro, aquilo que aprendemos, certamente, contribuirá para a nossa formação como pessoas e enriquecerá o nosso percurso. Quantas vezes já me aconteceu uma conversa sobre determinado assunto, fora da minha área direta de formação, e aquilo que um dia aprendi na escola me foi essencial para compreender a questão debatida ou o problema que necessitava de resolução?
Estamos habituados a consumir informação para resolver problemas com que nos vamos deparando: comemos para matar a fome, pesquisamos um vídeo no Youtube para sabermos como consertar algo em casa, compramos roupa porque a que temos já está muito usada ou porque queremos apresentar um estilo mais atrativo, vamos ao médico porque estamos doentes, entre outras (inúmeras) situações.
Pelo contrário, quando aprendemos diversas matérias, no âmbito de diferentes áreas do saber, estamos a enriquecer a nossa cultura geral e o nosso conhecimento sobre temas que poderão não ser úteis no imediato, mas que, seguramente, darão frutos no futuro, mais ou menos próximo, e de forma até indireta.
Por exemplo, se aprendo um instrumento musical, posso não me vir a tornar, necessariamente, um músico, mas essa aprendizagem contribuirá para estimular a minha sensibilidade e a minha criatividade, e conferir-me-á uma diferente forma de expressão perante o mundo, assim como me permitirá treinar a minha concentração, disciplina e capacidade motora. Tudo isto são ferramentas que se revelarão essenciais ao longo da vida.
Ou seja, existem aprendizagens fundamentais adquiridas no percurso escolar e que podem não ser evidentes no momento em que as efetuamos, mas que se virão a revelar relevantes. Claro que isto não invalida que os currículos escolares sejam atualizados de forma regular, de modo a irem ao encontro das diferentes gerações, vicissitudes e especificidades de cada tempo.
Desta forma, sempre que um aluno pergunta ao seu professor para que serve determinado conteúdo, o último deve responder-lhe com calma, fomentando a sua curiosidade para que se interesse pelo tópico em questão. Se o professor responder com uma afirmação como “Tem de se aprender e pronto. Está no programa”, isso só contribuirá para o desinteresse do aluno e afastamento do mesmo face à disciplina em questão ou ao tema que está a ser trabalhado.
Neste contexto, a motivação dos alunos continua a ser essencial, tendo o professor um papel fundamental para que tal aconteça. Há várias formas de abordar um mesmo assunto. O professor deverá descobrir qual a mais adequada para cada turma. Aliás, no seio de um mesmo grupo, alguns alunos poderão necessitar de diferentes tipos de motivação, simplesmente porque os seres humanos não são produzidos em série. Nem todos gostamos das mesmas coisas e nos sentimos atraídos para os mesmos assuntos. O caminho do professor é, de facto, duro e o esforço é, não raramente, hercúleo, mas os resultados valem a pena.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.