Desde há anos que a Educação em Portugal se prende com uma abordagem em massa, sendo que encontramos nas escolas turmas com um elevado número de alunos, tornando-se muito difícil para o professor ir ao encontro das potencialidades e dificuldades específicas de cada ser que se encontra todos os dias à sua frente, numa sala de aula.
Os sucessivos cortes orçamentais que nos vários orçamentos do Estado foram sendo impostos ao campo da educação conduziram a que reformas estruturais urgentes ficassem pelo caminho, como a importância de serem criados grupos de alunos mais pequenos, ou seja, mais turmas, o que tornaria as aulas muito mais produtivas.
O que temos hoje, em cada disciplina, é um programa elaborado para todos de forma igual, extenso e pesado, e a exigência de que seja cumprido, com um foco colocado não na aprendizagem em si, respeitando o ritmo de cada jovem, mas na preparação para exames ou provas. A tónica, parece-me, está colocada no sítio errado. Existe, acredito, uma pressão demasiada sobre os nossos estudantes para que obtenham resultados altos nos exames ou provas, como se um número pudesse traduzir com exatidão o conhecimento efetivamente adquirido.
Vivemos, pois, num tempo em que os alunos vivem sobre pressão, o que não deixa margem para que cada conteúdo seja aprendido ao ritmo de cada um. O foco está no resultado e não no caminho percorrido até ao mesmo, e nesta corrida acaba sendo atropelado o interesse supremo dos alunos, ou seja, há um comprometimento, de certa forma, do direito à educação. Afirmo-o desta forma porque, na minha perspetiva, o direito à educação envolve o respeito pelo aluno como um ser individual, o que inclui a preocupação de perceber os interesses destes jovens, as áreas que sentem vontade de explorar e aquelas às quais oferecem maior resistência, procurando não forçar a memorização de conteúdos que, na verdade, não entendem, mas sim motivar e despertar para as aprendizagens.
Quando um professor diz a um aluno “Se não estudares, vais ter negativa”, o que significa isto na verdade? Atrevo-me a considerar que “absolutamente nada”. Não se pode colocar a ênfase no binómio negativa/positiva, aliás nem sequer deve ser atribuído um tom hipotético à aprendizagem. Pelo contrário, um professor pode procurar demonstrar ao aluno por que razão um dado conteúdo pode ser relevante na sua vida, e perceber que existem diferentes formas de abordar esse mesmo conteúdo, e que podem variar de aluno para aluno.
Por outro lado, não podemos esperar que todos os alunos cheguem à escola motivados. Na verdade, é neste espaço que deve ser desenvolvida essa motivação. Chega de fazermos da educação o campo de batalha que vemos hoje e tenhamos a coragem para admitir que o modelo que temos se encontra esgotado. Vejamos o exemplo da Finlândia, onde mais de 50% do currículo é estruturado pelos professores, definindo temas que consideram essenciais, considerando a sua experiência de ensino e os alunos que têm, o que é muito promissor. Evidentemente que a mudança não ocorre do dia para a noite mas já é tempo de a escola pública dar os primeiros passos no sentido de uma modernização do modelo educativo.
Se desistirmos de um aluno que seja, isso só significa que o modelo de educação que temos está a falhar. Isso também demonstra que é urgente que se perspetivem novos modelos de educação que respeitem a individualidade de cada aluno, até porque os tempos mudaram, mas o modelo que temos não apresenta, praticamente, nenhuma alteração desde o século XVIII, ou mesmo antes, ainda que só se tenha consolidado nessa altura, o que só pode querer dizer que se encontra obsoleto e sem a capacidade de se adaptar às novidades dos tempos.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ Há vida para além da maternidade. É preciso fazer um desenho?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.