Estamos a viver a 6ª vaga da SARS-CoV-2. O seu início situar-se-á na primeira semana de abril, com cerca de 9,4 mil infetados por dia, e, em 12 de maio, cerca de um mês depois, tínhamos já 24,8 mil infetados por dia, ou seja 2,6 vezes mais casos. Esta explosão coincide com a dispensa total do uso de máscara (escolas, espaços públicos interiores, acontecimentos de diversão, culturais ou desportivos, casamentos e batizados,etc.), mas a realização de queimas das fitas ou de comemorações alusivas à conquista de títulos desportivos, podem ter contribuído para agravar o problema, sobretudo no norte o País.
No comparador europeu Portugal ocupava, na passada semana, a pior posição no ranking do ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control) quanto aos indicadores mais relevantes: a) número de casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, com 2286, estando em segundo lugar, e a larga distância, a Alemanha com menos de metade dos casos (1048); b) número de óbitos por milhão de habitantes nos últimos 14 dias, em que partilhamos com a Grécia a pior posição com 31,3 óbitos; c) positividade dos testes covid, com uma taxa de 44,8% de positividade nos últimos 14 dias, contra 32,6% do Luxemburgo que se encontra na 2ª pior posição; d) número de infetados nos últimos 14 dias em maiores de 65 anos por 100 mil habitantes, com 1822 casos, contra 1170 da França e 897 da Espanha, que ocupam, respetivamente, a segunda e a terceira piores posições.
O relatório semanal da DGS sobre a Covid-19, referente à semana de 10 a 16 de maio, vem confirmar estes maus resultados, apontando para valores preocupantes em praticamente todos os indicadores:
- Nessa semana registou-se um aumento de 58% nos novos casos, face à semana anterior, com uma média diária de 22.500 novos infetados;
- O número de óbitos aumentou em 33% face à semana anterior, registando uma média diária de 27,3 mortes por Covid-19 e um crescimento mais expressivo na faixa etária acima dos 80 anos. Convirá dizer que a média diária de óbitos entre março e dezembro de 2021, foi apenas de 8,29, menos de 1/3 dos agora verificados;
- Os internamentos, embora em valores perfeitamente controláveis, cresceram cerca de 20%, passando para 1450 doentes internados em 16 de maio, com um peso maior nas faixas etárias acima dos 70 anos;
- Os internamentos em UCI subiram mais de 42%,passando para 84 doentes, com o maior crescimento a registar-se na faixa etária dos 60 aos 70 anos;
- O R(t) passou para 1,23, indiciador de expansão significativa do vírus.
É neste cenário de agravamento generalizado de todos os indicadores que importa refletir sobre eventuais medidas a tomar, tanto mais que se aproximam as festas populares do Verão, diferentes festivais de música indoor e ao ar livre e temperaturas mais apelativas para o convívio fora de casa.
O Governo tem-se mostrado renitente em retomar o uso da máscara, mas não deixou de ser assinalável a entrevista que a Diretora-Geral da Saúde deu à TVI quando pareceu inclinar-se para uma nova obrigatoriedade ao afirmar que usava sempre a máscara em todas as reuniões. Da recomendação veemente que então deixou até a uma decisão politica mais musculada vai um pequeno passo que penso que irá ter que ser dado. Até porque a tendência é de agravamento e não de controlo da situação. Percebe-se que este tipo de decisões em ziguezague, podem desacreditar quem as toma, mas é bom recordar que estamos perante um vírus com sucessivas mutações, com novas caraterísticas ainda não conhecidas e muito menos esperadas. E sendo assim, o decisor político deve estar bem atento à evolução dos acontecimentos e tomar em cada momento as medidas oportunas que melhor se ajustem às novas circunstâncias. Isso mesmo tem sido, aliás, pedido por várias entidades, da área científica aos clínicos, dos autarcas aos empresários. Por exemplo, voltar a tornar gratuita a realização dos testes covid nas farmácias, poderá ser uma medida relevante para travar a ida inusitada às urgências hospitalares, apenas com uma simples gripe. Outro exemplo: tornar obrigatório o uso da máscara em espaços fechados e, designadamente nos locais de trabalho, poderá reduzir de forma significativa o número de infeções e as baixas por doença.
Todos confiamos na capacidade do nosso SNS para combater o vírus com sucesso, até porque os fatores de maior gravidade estão ainda sob controlo. Mas as consequências do aumento de novos casos são já visíveis em muitas empresas e em muitos hospitais, com quebras significavas na assiduidade. É, por isso, tempo para agir com determinação para mitigarmos este avanço da covid, num momento em que as férias se aproximam, o turismo aumentará e em que seria desastrosa uma dispersão descontrolada do vírus.
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