Como seguramente tantos dos meus leitores, tenho vivido com silenciosa angústia estes tempos sombrios. Como tantos de entre eles, tenho procurado razões para tentar vislumbrar uma saída menos trágica para tão terrível descaminho. Gostava que a realidade me conseguisse fazer acreditar. Gostava sobretudo que a razão me autorizasse um mínimo de otimismo. Mas confesso que não consigo. A razão, como é próprio de todas as razões, não se compadece e não se deixa confundir com simples desejos.
Não tanto porque a razão não me permita reconhecer, como nota a maioria dos analistas e dos especialistas, que a guerra não corre de feição ao ditador de Moscovo. Pelo contrário, parece-me evidente que os seus planos para uma Blitzkrieg e para a subsequente deposição quase pacífica do regime ucraniano fracassaram com estrépito. Não deixo também de reconhecer que a resposta dos aliados, dos EUA, da UE, foi mais firme e mais rápida do que muitos de nós esperaríamos. A Rússia está, de facto, transformada num Estado pária e as sanções económicas vão ter um efeito devastador. Finalmente, não me custa acreditar, num mundo altamente interligado, na oposição de alguns setores da sociedade civil russa e até em dissensões no seio do Kremlin (parece, aliás, hoje provável que a informação que os EUA foram recebendo sobre a iminência da invasão terá tido origem numa qualquer fonte bem informada do regime de Putin).