É sabido que as campanhas eleitorais não são propícias a discutir o muito longo prazo. Como se costuma dizer, a única coisa que é certa é que, por essa altura, estaremos todos mortos. Paradoxalmente, é por isso mesmo, porque seremos mais os mortos do que os que nos sobreviverão, que parece bizarro que não consigamos, num momento de catarse democrática e de questionamento do futuro que são sempre umas eleições legislativas, olhar de frente um dos grandes bloqueios da economia e da sociedade portuguesa: o tão propalado inverno demográfico em que estamos a mergulhar. Somos já um dos países mais envelhecidos da Europa e do mundo. Todas as previsões apontam para que, na ausência de políticas ativas que o contrariem, a situação continue a piorar durante os próximos 30 a 40 anos. Ora, este envelhecimento acentuado (com o País a perder cerca de dois milhões de habitantes nas próximas décadas) tem consequências brutais que não deixarão de condicionar, e muito, todas as opções que vemos a ser discutidas por estes dias – ao ponto de condenar à irrelevância muitas das atuais discussões. Desde logo porque, com menos população ativa, é quase certo que diminuam a riqueza gerada e a nossa capacidade de redistribui-la, mas também porque se desequilibrarão definitivamente as contas da Segurança Social. Cada vez menos serão os chamados a contribuir para as despesas (de pensões, de saúde, etc.) dos cada vez mais. O fardo de pobreza que estamos a deixar, para ser carregado pelos nossos filhos, é absolutamente insustentável.
Ora, sobre o tema reina o silêncio quase absoluto. O País tem caminhado em direção a uma muralha de envelhecimento, a um declínio demográfico, a um desafio verdadeiramente existencial que ninguém parece interessado em ver e muito menos discutir.