Este texto foi escrito num portátil que, como a esmagadora maioria dos portáteis, utiliza um processador com arquitetura x86. É assim com todos os PCs no sentido tradicional do termo, as máquinas que ainda hoje dominam as secretárias, tanto em casa como nas empresas. O mesmo é verdade para os computadores Mac da Apple.
A arquitetura x86 foi criada pela Intel e já é usada desde o final da década de 70 do século passado. Foi, provavelmente, a melhor coisa que aconteceu à computação pessoal porque permitiu a evolução rápida dos microprocessadores e do universo PC. Até se pode considerar que microarquitetura x86, que também é usada pela AMD, está na origem da evolução digital que tem marcado a história recente da humanidade. Esta arquitetura teve sucesso devido à combinação de vários fatores, com destaque para a polivalência/compatibilidade, suportando um vasto leque de comandos de software, facilidade de programação e segurança.
No entanto, se estiver a ler exte texto online, dizem os dados de acesso à plataforma digital da Exame Informática, que há cerca 50% de probabilidade de estar a usar um tablet ou smartphone com arquitetura ARM. Os processadores Snapdragon da Qualcomm, os Kirin da Huawei e os AX da Apple são apenas alguns exemplos de chips com base na arquitetura ARM, que foi criada em 1990 e, como tal, já inclui otimizações que estavam longe de poder ser ponderadas 20/30 anos antes. E, se no início, estes chips estavam limitados a dispositivos móveis e de baixa performance, atualmente a situação já mudou por completo. Hoje, por exemplo, o iPad Pro que usa o A12X (ARM), tem resultados de benchmarks muito próximos dos obtidos por um MacBook Pro com processador Core i5. E com vantagens importantes para a processador ARM em termos de consumo de energia e dispersão térmica. Se analisarmos a curva de evolução de desempenho dos processadores ARM vs x86, é notório que os primeiros estão a evoluir mais rapidamente e que vão acabar por ultrapassar os segundos. O que está longe de ser apenas uma consequência da microarquitetura. Está, também, relacionado com as unidades de processamento complementares especializadas. Primeiro surgiram os processadores gráficos e agora as unidades muitas vezes denominadas de neurais, porque usam algoritmos preditivos capazes de antecipar resultados em vez de fazerem um processamento tradicional e muito mais moroso. Atalhos que, em muitos tipos de software, resultam em cheio.
Mas há mais: 2018 foi o ano em que se desmistificou outro trunfo da arquitetura x86, a segurança. Os casos Meltdown e Spectre demonstraram que a “confiança cega” que se tinha nos processadores x86 era exagerada. As consequências foram vastas e as soluções incluíram perder muito desempenho, o que não é aceitável para, por exemplo, grandes servidores.
Tudo isto significa que o x86 está a caminho da extinção? É possível. Basta considerarmos que quase não se vê a presença do x86 nas tecnologias mais promissoras, como IoT, condução autónoma e IA. A computação destes segmentos é muito assente em ARM e outras arquiteturas de processamento. Por outro lado, a Intel também já prometeu uma série de otimizações para que o x86 continue vivo e de boa saúde, a começar por integrar processamento do tipo neural em futuras plataformas, como foi apresentado na CES. E soluções híbridas que vão permitir juntar, num único chip, processamento de baixo consumo energético com processamento de alto desempenho. E, é claro, o x86 continua a ter as grandes vantagens da retrocompatibilidade e no processamento geral, não especializado, que continua a ser muito importante. Talvez ARM e x86 estejam condenados a trabalhar em conjunto.