Com a substituição de Pedro Passos Coelho (PPC) na liderança do PSD, são expectáveis mudanças para melhor no partido e para o País, qualquer que seja o resultado das eleições do próximo dia 12. Mudanças para melhor: a) na forma de fazer oposição; b) na possibilidade de celebrar acordos sobre temas/problemas cuja planificação e resolução ultrapassa o período de uma legislatura; c) na tradução, a nível partidário e parlamentar, do clima muito mais descrispado e saudável da era Marcelo/Costa, tradução que PPC sempre tentou impedir, após a sua gravemente antidemocrática afirmação de que o atual Governo seria “ilegítimo e fraudulento”.
Espero fundada tal expectativa por três ordens de motivos. Primeiro, pelo dito comportamento de PPC, de um radicalismo e agressividade que nunca vi em Rui Rio ou Santana Lopes, apesar deste nunca se ter distanciado muito de PPC, sendo apenas, por vezes, moderadamente crítico. Segundo, porque declarações de ambos implicam ou indiciam promessas naquele(s) sentido(s). Terceiro, por ser do interesse do PSD, até eleitoralmente, abandonar o atual caminho de insensato botabaixismo sistemático e sem o reconhecimento sequer dos óbvios excelentes resultados conseguidos pelo atual Governo na criação de emprego, no défice, no crescimento, etc. – caminho que nas autárquicas teve as consequências sabidas.
Mas é este mesmo caminho que segue agora Assunção Cristas. A quem parece ter subido à cabeça o bom resultado nas autárquicas de Lisboa, não percebendo que ele se deveu sobremaneira aos erros do PSD e, assim, ao péssimo resultado da sua candidata – de que a líder do CDS foi beneficiária. E também essa postura de Cristas, prejudicial para ela e para o partido, aconselha a mudança no PSD e facilita o seu reposicionamento ao centro, após como que ter ultrapassado o CDS pela direita. Reposicionamento indispensável, creio, para voltar a ter maior expressão eleitoral – e para (no centro e com um centro/esquerda não menos forte que o centro-direita) fazer jus ao nome que tem, ao espírito do programa do PPD e ao pensamento dos seus principais fundadores.
Ora, julgo tal reposicionamento mais possível e coerente sob a liderança de Rio. Pela atitude de Rio e Santana face à liderança cessante e pela área em que, pelo que se sabe ou julga saber, cada um deles se situa. Rio é em geral considerado, pela ação e pelas palavras, um social-democrata “moderado” (muito contestado, por exemplo, no domínio da cultura). Santana, sem prejuízo de assim se afirmar, mais do que uma vez apareceu associado à hipótese de criação, com Paulo Portas, de (julgo não ser blague…) um PSL, Partido Social-Liberal.
Quanto ao mais, as diferenças entre ambos – de percurso, personalidade, forma de ser e estar, inclusive na política, afiguram-se nítidas. Podendo ser nítidas as expectativas e opções dos militantes do PSD quanto ao melhor para líder do partido e futuro ‘potencial’ primeiro-ministro. Não faço ideia de quem vai vencer. Não arrisco nenhum prognóstico sequer sobre quem estará mais disponível para o diálogo e os acordos necessários com outros partidos. A minha única convicção é que, por muito que Santana tenha amadurecido e melhorado, eleitoralmente o PS preferirá que o PSD seja liderado por quem deu um valioso contributo para a maioria absoluta de José Sócrates.
(Artigo publicado na VISÃO 1295, de 28 de dezembro de 2017)