Pede a VISÃO que preencha à segunda-feira o totobola das autárquicas.
Perdedor que sou e sem distância suficiente para a isenção que o tempo justifica, talvez o melhor sejam umas notas corridas sobre o que me pareceu o resultado para cada um dos partidos.
Começando pelos vencedores. As eleições foram ganhas pelo PS. Nada de novo aqui. Nunca o ciclo eleitoral foi indiferente ao ciclo económico. Foi assim em 2015, quando o começo da recuperação económica fez o PS ficar em segundo nas eleições legislativas.
O argumento de António Costa era, em 2013 e 2014, certeiro. Como podia o PS perante a depressão económica que se vivia não ter melhores resultados que os da direção de António José Seguro?
Hoje, mesmo que a economia revele ser conduzida por caminhos bem diferentes dos que o PS defendia a mão invisível dos resultados de 2017 protegeu os candidatos do PS.
O PS aumenta em votos, mandatos e presidências de Câmara. Ganhas sobretudo ao PCP a quem, depois de tirar relevância na solução de governo, começa agora a dizimar no poder local.
O segundo vencedor da noite é, obviamente, Assunção Cristas. E se Assunção Cristas for o CDS, como parece, então também o CDS é um grande vencedor. Sucede que, já vamos a Lisboa, a noite eleitoral do CDS sublinha apenas uma coisa: fora das coligações com o PSD, o CDS não tem quase expressão. Lisboa é diferente. O objectivo de Assunção Cristas não era autárquico, nunca foi. Era deixar para trás a memória de Portas e conquistar para si o CDS. Está feito.
E, com exceção de alguns independentes, acaba aqui o rosário dos vencedores.
No domingo quando cheguei a casa estava a líder do Bloco de Esquerda, na TV, aos gritos. Imaginei o pior. Mas não. Como diz um deputado do PCP, o Bloco continua a ter mais comentadores que vereadores. No resto, a irrelevância de sempre com um score abaixo dos 3,5 por cento. Nenhuma câmara municipal conquistada; só a alegria do costume. Participar, lá está, é o importante para o Bloco. Bem hajam.
Já o PCP, não fora o respeitinho devido à narrativa estabelecida, podia ser o grande perdedor da noite. Tinha à partida só um terço das câmaras municipais do PSD, mas era ainda assim um grande partido no poder local. Perdeu um terço dessas câmaras. Todas para o PS. Passou de 34 a 24 presidentes de câmara. Foi humilhado de Beja a Almada. Provou afinal o duro veneno do erro de estratégia política que foi a geringonça. Para quê votar PC quando PC anda a explicar o mérito do PS. Vale mais o original. Nas legislativas será pior. Ainda bem.
E por fim o PSD. O derrotado anunciado. Não perdeu, em comparação, nada que se pareça com o PCP, mas perdeu. Muito. Mais do que os outros porque de mais ninguém se espera que seja alternativa. Perdeu porque ninguém ganha eleições contra os ciclos da economia. Perdeu porque cometeu vários erros na forma como projetou a reação e oposição à geringonça. E perdeu por causa dos seus candidatos. Este que aqui vos escreve, ajudou a fazer um programa para Lisboa, correu a cidade, teve a cara nos cartazes. Mais responsável, é difícil.
Sucede que, no fim do dia, todos assumimos as nossas responsabilidades. Escrevo sem conhecer a decisão do presidente do PSD mas não é difícil imaginar que a conclusão do discurso de enorme dignidade com que encerrou a noite eleitoral seja a de abandonar a liderança do PSD.
E assim se cumpre a preceito a ladainha que aqui nos trouxe. O PSD era o perdedor anunciado. Para todos os que dentro e fora do PSD procuraram o afastamento de Pedro Passos Coelho o objectivo está cumprido. Agora começa uma vida nova. Sem desculpas.
(Artigo publicado na VISÃO 1283, de 5 de outubro de 2017)