Os atentados de Bruxelas são a prova de que a Europa não sabe como defender-se. Não sabe como lidar com o Islão radical. Não sabe como neutralizar os jovens radicalizados de Moleenbeek e Saint-Denis. Não sabe como gerir os fluxos migratórios que tendem a agravar ainda mais as tensões dentro das sociedades europeias e só irão multiplicar populismos e xenofobia. Não sabe como contribuir para a estabilização do Médio Oriente, do Norte de África e de todas as regiões onde tem responsabilidades históricas. Não sabe sequer definir uma estratégia comum contra as diversas ameaças que podem comprometer o projeto europeu.
Sim, ataques como os de Bruxelas vão ser cada vez mais frequentes. Depois de Madrid, Londres, Copenhaga e Paris – só para nomear os mais mediáticos – é bom termos consciência do que nos espera. As hordas de fanáticos para quem a vida humana nada vale conhecem-nos muito bem e sabem do que (não) somos capazes. Sim, as cenas de selvajaria nas cidades europeias vão continuar a acontecer. Pela enésima vez, vamos ouvir os analistas e os responsáveis políticos afirmarem que temos de estar preparados, que é preciso encontrar um delicado equilíbrio entre segurança, liberdades e garantias.
Estaremos nós em guerra?
Depois do 11 de Setembro, George W. Bush disse que sim aos americanos. E François Hollande disse exatamente o mesmo aos franceses, após o massacre da sexta-negra de 13 de novembro. O melhor é insistirmos todos nesta questão.
Estamos em guerra?
É bom que alguém nos diga que tipo de guerra é essa e como nos devemos preparar para ela. Um dos grandes pensadores europeus da atualidade, o espanhol Manuel Castells, escreveu há cinco meses que a Europa corre o risco de israelizar-se. O ponto é que os israelitas aprenderam a viver com a violência sem abdicarem da liberdade e da democracia. Os paladinos do politicamente correto podem sempre invocar a questão palestiniana, mas convém reconhecer que Israel não é um Estado policial, embora seja dos países que mais gasta no setor da defesa (6,2% do PIB, qualquer coisa como 10 mil milhões de euros anuais). Quer saber quanto é que gastam os europeus para se defender? Com exceção da Grécia, Polónia e Reino Unido, todos investem menos de dois por cento. Ou seja, a generalidade das nações europeias continua a fazer tábua rasa dos compromissos assumidos na cimeira da NATO, no País de Gales, em setembro de 2014, em que ficou definida a necessidade de inverter a queda dos orçamentos em matéria de defesa. Escusado será dizer que o terrorismo não se combate de forma convencional e muito menos à moda antiga. Mas a capacidade de dissuasão implica não ter medo de gastar dinheiro onde ele é preciso. Seja para combater os fanáticos que se identificam com o Daesh e a Al Qaeda, seja para anular as veleidades bélicas dos autocratas espalhados pelo mundo.
Sim, estamos em guerra. Mas não, não podemos deixar-nos intimidar. Esta noite, em Lisboa, Bruxelas, Paris ou Telavive, temos o dever de ir para a rua, para os restaurantes e para as esplanadas. É isso que nos define e nos distingue dos xeques e dos califas que nos criticam em Riade ou em Raqqa. Mesmo que isso represente um risco adicional para todos nós.