Em 2011, foram 400 pessoas. Cinco anos depois, já éramos mais de 40 mil. No início deste mês fui a Dublin assistir ao último Web Summit que lá se realizou.
A partir de 2016, durante três anos, será a vez de Lisboa. Do que por lá vi, destaco cinco ideias a ter presentes, se queremos estar à altura da responsabilidade de termos sido escolhidos, em competição com algumas das maiores cidades europeias, para receber aquele que é já reconhecido como o maior evento de empreendedorismo tecnológico do mundo.
O Web Summit não é só um evento importante para engenheiros informáticos, nerds, geeks ou como queiram chamar a todos o que fazem da inovação tecnológica um modo de vida. A maior parte das empresas que lá podemos encontrar, desde as startups às do ranking Fortune 500, operam em setores tradicionais da economia, como o agrícola ou o industrial, onde procuram incorporar melhorias assentes no uso aplicado da tecnologia. Essa é, aliás, uma das grandes vantagens deste fórum: a de cruzar setores.
É o único evento do lado de cá do oceano, a esta escala, que junta o que de melhor se faz na Europa com o que de melhor se faz nos Estados Unidos da América.
Isso permite a qualquer jovem que tenha uma ideia de negócio ainda em fase de arranque, numa cidade remota de Portugal, expô-la num mesmo evento aos empreendedores mais famosos do mundo, aos jornalistas mais conhecedores do assunto e aos investidores mais qualificados para diferentes tipos de negócio.
Estar no Web Summit não é proibitivo, mas é caro. Isso faz com que as empresas ali inscritas se esforcem notoriamente para tirarem o máximo de partido dos mais de 20 eventos paralelos que decorrem em torno da conferência principal, durante cerca de uma semana. Todos os momentos de networking são esmifrados, todas as oportunidades para brilhar contam, a mais breve conversa com um estranho na fila do café é encarada como se disso dependesse a realização de um sonho. Se há coisa que o Web Summit é, é ser intenso.
Tão importante é ensaiar bem o elevator pitch antes de ir como estar lá com os ouvidos bem abertos para ouvir.
Porque o mais rico do Web Summit não é, afinal, a sua componente de “feira” de negócios. Trata-se, sobretudo, de um evento de inspiração. Em qualquer corredor, fala-se do futuro. Ao todo, passam por lá cerca de mil oradores, com perfis tão distintos como Ed Catmull, presidente dos estúdios de animação da Pixar e da Walt Disney Studios, a explicar como cruzou tecnologia com um setor que estava claramente a precisar de inovação, ou o escritor Dan Brown a falar sobre o seu processo criativo que desde 2012 já cativou 200 milhões de leitores em mais de 50 países.
Para qualquer país que tenha a honra de o acolher, o Web Summit traduz-se em muito mais do que no número de camas ocupadas para os agentes de turismo. É um fortíssimo momento de branding amplificado à escala global. Para Portugal, será também uma oportunidade para contrariar a imagem que ainda possa subsistir de um país em crise, com uma economia assente em setores tradicionais pouco sofisticados. Vamos poder mostrar o que temos vindo a fazer em termos de criação de empresas globalmente competitivas, de ciência aplicada, de rede de incubadoras e aceleradas e de comunidade de empreendedores altamente qualificados. É por mérito de todos eles que o Web Summit vem para Lisboa. Nas palavras do seu fundador, Paddy Cosgrave, ganhámos pelas infraestruturas da cidade e do evento em si, mas sobretudo pela nossa emergente comunidade de startups.
É, portanto, uma honra mas também uma grande responsabilidade para essa mesma comunidade ser, em parte, a razão pela vinda do Web Summit para Portugal. Mas não só para as startups e incubadoras, de norte a sul do País.
Desde os taxistas que os transportarão, aos colaboradores do comércio e turismo de Lisboa, às maiores empresas tecnológicas portuguesas, nomeadamente à operadora que ficar responsável pela internet no evento, e às universidades e centros de desenvolvimento a todos caberá uma quota parte dessa responsabilidade. Temos um ano para nos prepararmos, para mostrarmos a empresários, consultores, investidores e jornalistas de todo o mundo (este ano, estavam representados 134 países) do que somos capazes. Uma coisa é certa: depois de novembro de 2016, o tecido empresarial português dificilmente voltará a ser o mesmo.