Quantas mais crónicas escreverei sobre esta guerra? Tento olhar para a frente, e a terrível sensação é a de que, cada vez que eu me sentar para a escrever, não existirá outro assunto. Aconteça o que acontecer, as consequências para o nosso modo de vida serão tão profundas que, mesmo que outro eventual tema não esteja imediatamente ligado à guerra, ela estará lá cravada na nossa consciência.
O próprio ato de escrever sobre o assunto tem qualquer coisa de herético. Pessoas da minha família afastada estão a ser bombardeadas ou mortas, enquanto eu me sento confortavelmente em frente a um computador; irmãos da médica que me trata estão na frente de uma batalha, enquanto beberico um chá e tento encontrar um ângulo supostamente diferente para abordar o tema de que todos falam. Quando era com pessoas do outro lado do mundo, não estava tão incomodado. Não há como não o admitir. Esta guerra tem uma proximidade pessoal que a faz diferente das outras dos nossos tempos. Mas não é só isso: esta muda radicalmente a nossa vida, a nossa forma de vida e até os nossos valores.