Em 1898, Triplett observou que os ciclistas eram mais velozes quando outros ciclistas estavam presentes do que quando sozinhos. Neumann, em 1904, refere que na presença de outros os indivíduos levantavam pesos mais pesados do que sozinhos. E Rajecki e colegas (1977) verificaram que os indivíduos completam um labirinto na presença de um observador (mesmo com olhos vendados), mais depressa do que quando sozinhos.
Hoje, são inúmeros os estudos que documentam um desempenho mais rápido na presença de outros, sendo o efeito referido de Facilitação Social (um fenómeno generalizado a humanos e não humanos).
Porém, o executar mais rapidamente uma tarefa em presença de outros não indica que a executemos melhor. Vários estudos (ver Aiello & Douthit, 2001) referem que a qualidade do desempenho melhora na presença se a tarefa for familiar ou simples, mas que piora se for nova, e complexa.
Porquê?
A presença de outros induz igualmente outros fenómenos sociais, como competição e/ou comparação social, a sensação de ser avaliado, o que nos leva a gerir melhor as impressões que causamos nos outros e aumenta a auto-consciencialização pública
Fatores motivacionais e cognitivos explicam os efeitos de mera presença. Em presença de outros tendemos a dar respostas habituais/dominantes (Zajonc, 1965), que são adaptadas a tarefas bem aprendidas e não a tarefas novas e complexas. Aumenta o nosso envolvimento com a tarefa sentindo-a ora como um desafio, se simples, ora como uma ameaça, se complexa (Blascovich et al, 1999). Os outros, sendo uma fonte de distração (Baron, 1986), levam-nos a, ativamente, focarmos a atenção na tarefa (favorecendo o desempenho se for tarefa-fácil). No nosso laboratório mostramos que, na presença de outros, atendemos mais ao contexto (Garcia-Marques et al., 2015) e, simultaneamente, evitamos melhor interferências indesejadas à tarefa (Fernandes & Garcia-Marques, 2022).
A presença de outros induz igualmente outros fenómenos sociais, como competição e/ou comparação social, a sensação de ser avaliado, o que nos leva a gerir melhor as impressões que causamos nos outros e aumenta a auto-consciencialização pública. A presença de outros fomenta também o estabelecimento de uma realidade partilhada. Estes fenómenos sociais também influenciam o desempenho. Por exemplo, a mera sensação de estarmos a ser observados aumenta a cooperação, a honestidade e a generosidade (ver Haley & Fessler, 2005).
A complexidade dos fenómenos ativados por mudança de espaços isolados para partilhados torna cada caso um caso a ser adaptado. Ainda mais porque os traços de personalidade do trabalhador afetam o seu grau de suscetibilidade aos efeitos da presença (para revisão ver Uziel, 2007). Por exemplo, os indivíduos que mais monitorizam os seus comportamentos são aqueles que sofrem mais desgaste cognitivo no contexto social (Figueira & Garcia-Marques, 2019).
Uma decisão sobre o uso de espaços abertos deve também levar em conta outros fatores como criarem a sensação de perda de privacidade, e a redução da satisfação com as condições de trabalho (ver Kim, & De Dear, 2013).
Pelos motivos enunciados, as organizações ganhariam com uma melhor reflexão e sustentação das decisões de usar espaços partilhados versus isolados.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.