Em tempos de Pandemia, vivemos uma experiência psicológica e social global, que revela o que está no cerne da nossa humanidade.
É evidente no stress que sentimos com o confinamento e distanciamento fisico, aumenta o nosso impulso para nos ligarmos com os outros.
O distanciamento físico não pode tornar-se distanciamento social. Pelo contrário, com distanciamento fisico, torna-se essencial reforçar a nossa ligação social e o nosso relacionamento com a família e os amigos.
Diante da incerteza, a música torna-se um bálsamo para acalmar a ansiedade, aumentar as nossas ligações ao mundo e desafiar uma ameaça ao espírito da comunidade.
No meio da Pandemia, em confinamento, vemos novas formas de nos relacionarmos, sobretudo pela música.
Trocar mensagens ou falar por videoconferência não é mais suficiente. Precisamos de nos interligar de forma mais emocional. É aqui que o poder da música se revela.
A música cria laços entre nós e reduz o sentimento esmagador de solidão. É possível que este não seja apenas um mero efeito secundário, mas a principal razão pela qual cantamos, dançamos e nos relacionamos. A música cria um sentimento de pertença e participação.
A música é universal. Nenhuma cultura existe sem ela. Ao olharmos para a música ao redor do mundo, vemos que cada cultura tem o seu próprio som.
Poucos lugares são tão definidos pela música como a Jamaica.
Com Bob Marley, o reggae tornou-se a banda sonora da Jamaica. E deixou a marca na cultural global.
Mas na verdade, há muito mais em Jamaica do que reggae. Os vários estúdios de Kingston e Spanish Town criam incansavelmente nova música.
O reggae, tal como o ska, rocksteady ou mento, é um som de amálgama. A música é marcada pelos ritmos africanos e experiências coletivas da Jamaica. O ska beat foi criado nos estúdios de Kingston por músicos influenciados pelo rock and roll, gospel, rhythm and blues, assim como o mento da Jamaica e o calipso de Trinidad. Rocksteady seguiu com um ritmo mais lento, enquanto o baixo se tornava mais estável e acentuado. Depois, veio o reggae com um ritmo mais rápido e complexo. Através da experimentação do reggae, a Jamaica criou o Dancehall, uma variedade digitalizada de reggae.
A contribuição da música reggae para o diálogo global sobre a injustiça, a resistência, o amor e a nossa humanidade. Apesar do Reggae começar como a voz dos marginalizados, foi rapidamente adotada por todos os gêneros, grupos étnicos e religiosos.
É no meio dessa diversidade, que chegamos ao Club Dub, no alto de Jack´s Hill, com um mar de luzes a cintilar ao fundo. Aqui no topo da montanha, o ar é mais fresco e tem um efeito calmante.
Seguimos pelas estradas escuras e íngremes. Estacionamos e caminhamos pela colina densa de árvores, guiados apenas pela luz do telemóvel. A batida da música torna-se mais vibrante, mais forte, e mais energética.
As enormes colunas do sistema de som dão o dub mais profundo e o reggae mais radical, sob uma enorme árvore carregada de mangas. Dub Club tem um público eclético, com jovens e velhos, locais e internacionais. A única coisa que todos temos em comum é a música.
Enquanto a música do gira-discos de vinil domina, um elenco variado de músicos de reggae tocam ao vivo. Dos revivalistas Chronixx e Jah9 ao veterano Ken Boothe. Jah Shakam, músico e rastafári, vira-se e diz alto Ketch di Riddim.
A Jamaica entrou em confinamento no final de março. Chronixx e Kooffee interromperam abruptamente os concertos de reggae planeados. Voltaram para casa e começaram a escrever e gravar canções.
O lançamento do novo álbum de Chronixx está para breve. Koffee na sua nova música “Lockdown”, ou confinamento, começa com uma pergunta que muitos de nós fazemos. Para onde vamos quando a pandemia estiver sob controlo e pudermos viver sem restrições? A música é uma história de amor contada na era do coronavírus. “Me ah go put you pon lockdown” canta Koffee.
Protoje também acabou de lançar o seu sexto álbum In Search of Lost Time, com Koffee, Sevana e Lila Iké, em que o reggae é reinventado, novamente.
“Connect Again” com a estrela do dancehall Konshens antecipa um mundo pós-quarentena e oferece um reggae de batida suave, mas espiritualmente forte.
E há o álbum de reggae mais esperado do ano, o recém-lançado Now I Rise de Dre Island. É um álbum liricamente urgente, face à pandemia e à injustiça sistêmica. O objetivo de Dre é inspirar esperança. Mostrar que depois de uma tempestade, vem a calma. Este é o momento perfeito para este álbum.
A música está no coração da Jamaica. Desde os novos álbuns de Dr. Dre e Konshens, o som de reggae de fundo nos mercados, ou as noites de domingo no Dub Club em Kingston. A música está sempre aqui, para manter a nossa esperança e a nossa empatia uns pelos outros.
A pandemia revelou o verdadeiro papel da música. É um antídoto para a crescente sensação de isolamento.
Num momento de incerteza e distanciamento físico, procuramos a música como forma de mostrar que nos importamos uns com os outros, que precisamos uns dos outros.
Ketch di Riddim.