
Há uns meses, tomei a decisão de testar um novo regime alimentar que nunca tinha experimentado e durante uns meses decidi que iria excluir qualquer produto animal da minha alimentação. Mas, como iria conseguir sobreviver sem queijo, sem peixe, sem marisco, sem carne?
Como bom otimista e determinado que sou, decidi ir em frente, afinal o que teria a perder?
Morar em Nova Iorque ajudou nesta minha decisão, com toda a certeza. À minha volta começava a reparar que haviam outros amigos e conhecidos que também eram veganos. Com muitas dicas, comecei a frequentar restaurantes, desde fast-food a comida gourmet e até supermercados especializados neste tipo de regime alimentar.
Mais uma vez esta cidade consegue agradar a “gregos e troianos” e sinto-me agradecido por ser Nova Iorquino. Questiono-me se noutras cidades do interior dos Estados Unidos também seria fácil adotar este tipo de alimentação e cheguei à conclusão que provavelmente não, pois de acordo com a minha experiência, sempre vi muita carne e poucos vegetais.
Com quase 6 meses de dieta vegana sinto-me bem, saudável, contente e com mais energia. Tenho a declarar que durante este tempo fiz batota em 4 refeições (numa delas inclui um, só um, pastel de Belém numa visita a Lisboa e noutra comer camarão tigre em Moçambique). De repente, questiono-me se continuarei assim para sempre? A verdade é que não sei… Será que todos deveriam ser veganos? A minha opinião é que cada um deve buscar aquilo que funciona para si mesmo, tenha carne ou tenha só vegetais. O que interessa mesmo é focarmos no que nos conduz aos resultados que buscamos, já que cada corpo e cada mente, reage da sua própria maneira, e nada como experimentar diversas opções para podermos ter e comparar resultados.
O que aprendi? Quais foram os benefícios? O meu aspecto físico mudou um pouco, a balança desceu uns quilos, o que é sempre agradável ver nas selfies e ainda mais no verão. Mais criatividade nos meus cozinhados, pois fui forçado a pensar em como cozinhar e nos novos ingredientes a utilizar, um desafio que adorei. Nunca gostei de seguir receitas dos livros e acabei por inventar outras opções. Mais conhecimento adquirido através de investigações e leituras sobre o tema vegan. E os aspetos negativos desta opção? Talvez por ser demasiado optimista, até agora não sinto nada negativo e de muito relevante a relatar. Hoje posso afirmar que sou vegano em festas, voos e restaurantes. A mochila que anda comigo para todo o lado na cidade, agora para além do laptop tem sempre uns snacks extra. Até a minha última mala de viagem mudou um pouco, acabei por levar comida, caso não houvesse opção.
Estes últimos meses abriram também a minha visão sobre a minha cidade. Mais uma experiência, mais um capítulo de Nova Iorque, o da vida dos vegetarianos e veganos. Por exemplo, descobrir na visita da minha Mãe, neste verão, o meu novo restaurante preferido, um restaurante Coreano vegano – há por cá, variedades para todos os gostos, mesmo!
Um tema que me apanhou de surpresa foi o da nutrição e produção de comida por cá. Sei que há muitas bocas para alimentar, mas li muitas coisas, que, assumindo serem verdadeiras, põem em causa muitos temas éticos, económicos e humanos, em que o fator económico de quantidade e lucro se sobrepõe ao da qualidade aceitável de consumo! Por exemplo, será verdade que o maior consumidor de antibióticos nos EUA é a produção animal? E que 70% de obesidade reside na população adulta? Neste cenário, é urgente começar a educar e informar sobre o que poderá ser uma crise de saúde pública neste país.
Além do benefício de morar em Nova Iorque por ter esta toda a diversidade, lembro-me da minha sorte por ter crescido em Portugal e ter acesso a experiências únicas que hoje poucos jovens relatam ter: onde na viagem de verão à terra dos pais havia a opção de comprar o borrego caseiro para o Natal ou o polvo da costa Alentejana apanhado pelos amigos pescadores do tio.
E na minha próxima visita a Portugal, no Natal, será que vai haver batota? Será que vou resistir e não comer o queijo caseiro que a minha tia faz já há mais de 50 anos ou o bacalhau no dia 24 ou o borrego no dia 25? Quem sabe…