A Saúde e a Educação são duas das pastas mais tóxicas para qualquer membro de um governo. De forma direta ou indireta, as duas áreas afetam, transversalmente, a vida de todos os cidadãos. E são também aquelas em que, pelas suas características, qualquer fagulha pode atear um incêndio de grandes proporções, contaminando até o ambiente de todo o executivo. São ainda áreas em que se fundem, como em poucas, corporações poderosas, muitos interesses instalados e uma tradição sindical de contestação sempre ativa. Como pilares do Estado social, são igualmente dois territórios que rapidamente se transformam em campo de batalha privilegiado para combates ideológicos sobre modelos de sociedade, financiamento do Estado e prioridades de desenvolvimento económico e social. A Saúde e Educação, como temos visto ao longo de décadas, são máquinas trituradoras de ministros, capazes de, em poucas semanas, destruir reputações que demoraram décadas a ser construídas.
Quando o atual Governo tomou posse, eram naturais as expectativas criadas em relação a estes dois ministérios, após tempos conturbados na anterior legislatura. E se havia algum ceticismo em relação à forma como Fernando Alexandre ia conseguir dar conta do recado num superministério que engloba todos os níveis de ensino, já em relação à Saúde a fasquia foi colocada num nível mais elevado, como que a vincar uma mudança substancial em relação aos anos de António Costa. Isso foi feito logo por Luís Montenegro que, ainda na campanha eleitoral, prometeu apresentar um plano de emergência nos primeiros 60 dias de governo, e que depois fez questão de frisar, no discurso de tomada de posse, que iria depressa “implementar uma reforma estrutural que fortaleça e preserve o SNS como a base do sistema, mas que aproveite a capacidade instalada nos setores social e privado, sem complexos ideológicos inúteis”. E, como sublinhou, tendo o cidadão como “única preocupação”. Com uma promessa solene: “Não vamos governar para a propaganda, vamos governar para os resultados.”