Neste verão, à clássica pergunta de conveniência “então, está tudo bem?”, um vendedor do mercado onde vou habitualmente respondeu-me: “Tudo bem, menina?! Eu andei a lutar na guerra, e nunca mais, nem por um dia, me esqueci do que ela é. Alguma vez imaginei ver guerra na minha vida na Europa, ou pensei que os meus netos podiam ter de vir a lutar?” Engoli em seco, perante o olhar inquisidor: como estaria tudo bem, com as bombas a ceifar vidas quase aqui ao lado?
Na Europa, vingou durante décadas – mais de três quartos de século depois do fim da Segunda Guerra Mundial – a ideia de que a paz podia ser perpétua. Acreditava-se que a Humanidade tinha de acabar com a guerra, antes que a guerra acabasse com a Humanidade. A evolução civilizacional e política ditaria enterrar para sempre os machados e as soluções primitivas e viscerais para os conflitos. Várias gerações cresceram a acreditar nisso, até que neste ano esse seria um mito que caía definitivamente por terra. 2022 foi o ano do fim da ilusão da paz, o ano em que o nosso mundo embruteceu e em que abrimos os olhos em relação a certas ideias (mal)feitas.