Está a chegar a hora de fazer contas. Os últimos dias, e a avalanche de sondagens e estudos, têm dado muito que pensar sobre o que aí vem e como foi possível aqui chegar-se. Há um ano, 3,7 por cento de avanço do PS sobre a coligação (os resultados nas europeias) foram considerados mais derrota do que vitória. Hoje, a menos que as previsões estejam loucas, já seria uma boa marca.
Em hora de balanço, aqui ficam algumas reflexões.
A bagunça das presidenciais – Andavam os partidos a querer falar de políticas de governação e o País mediático entretido com candidatos e possíveis candidatos, compromissos verdadeiros e escondidos, apoios e falsos apoios, preferências e segundas escolhas dos líderes partidários. Sofreu António Costa, embaraçado com o avanço de António Nóvoa e com a solidariedade secreta que terá com esta propositura. Atacaram-no alguns barões socialistas apostados em terem um nome que faça parte do grupo do Largo do Rato. No campo adversário, mais por contenção dos candidatos do que por mérito do líder, o processo fez um percurso tranquilo. Para a semana se verá quem entra na corrida.
O peso do passado – A imagem de gastadores que se colou aos socialistas continua a fazer escola. Não se fala do Estado-monstro criado por Cavaco Silva nem se recorda que foi com ele que nasceram as PPP. À memória vêm, antes, o despesismo dos governos de António Guterres e as obras públicas dos últimos dois governos socialistas. Além, é óbvio, de todos os episódios do caso Sócrates que Costa tem de enfrentar e cuja importância eleitoral está por avaliar.
Medo de mudar em tempo de crise – “Para pior já basta assim”, proclama a canção. O que talvez tenha faltado foi criar no eleitorado a convicção de que, antes daquele, há um outro verso: “para melhor está bem, está bem”. Pesou o passado e falhou a apresentação de ideias novas que mostrassem um rutura. Bem tentou o PS, com um programa que começou por ser elogiado (pelo menos por ter tido a iniciativa de avançar com a apresentação de uma circunstanciada carta de intenções), mas o tiro saiu-lhe pela culatra. Pouco tempo depois, o programa que faria destas eleições um terreno de debate aprofundado como nunca tinha sido visto a propósito de um sufrágio – como então se dizia – era, afinal, o alvo contra o qual todos disparavam. A Coligação carregou na artilharia para disfarçar que nada de novo tinha para mostrar. Se a coligação vencer, não restarão dúvidas de que o silêncio e o falar da obra feita (ainda que dolorosa) foram mais eficazes do que promessas de soluções tecnocráticas (ainda que redentoras), mas que se perderam na dificuldade das explicações. Estar calado pode ter voltado a ser o melhor remédio. As urnas dirão se há mais quem queria aceitar a adversidade já experimentada do que arriscar e ensaiar novas soluções.
O bonzinho e o ameaçador – Resulta mais ser calminho, bom menino, assumir o papel do “capuchinho vermelho” – e Costa não se cansa de dizer que andam por aí dois “lobos maus” disfarçados de menina prendada – ou o discurso exaltado, o recusar qualquer conciliação, o negar todos acordos, o fazer acusações – e a dupla Passos/Portas bem se tem queixado de que ao PS de Costa falta capacidade de diálogo democrático?
Verdades ou mentiras – Poucos políticos na história recente de Portugal terão sido tão insistentemente confrontados com o diz-desdiz que caracterizou a atuação de Passos Coelho (e também de Paulo Portas) desde os tempos da anterior campanha eleitoral. As piadas são incontáveis, os humoristas deliciam-se, os jornais fazem comparações – toda a gente conhece o estilo promete hoje e esquece amanhã. Mas, segundo as sondagens, não é isso que destrói a imagem de um político. Será que a mentira está de tal modo associada ao imaginário da política que o desrespeito pelas promessas deixou de ser penalizado? De acordo com as sondagens, proclamar a seriedade e garantir que apenas se promete o que se pode cumprir já não rende votos. Intenções de voto não rende seguramente…
Mais do mesmo – A campanha vai acabar sem se conhecer uma ideia nova. Os partidos grandes já mostraram que não estão na corrida para serem inovadores – estão lá para nos convencerem que têm a chave da governabilidade e as boas soluções para a governação – e os mais pequenos não têm espaço mediático e não despertam atenção. Estes dias não são de reflexão. São apelos ao seguidismo.
Adeus inconformismo – Uma grande vitória tiveram já Coligação e PS: os partidos tradicionais estão e estarão no centro da política portuguesa. Este país não é de Syrizas, Podemos, Ciudadanos, UKIP, Auroras Douradas. Onde andam os indignados e o anónimos? Imperou a resignação. Aqui quem manda é o centro, e como hoje dizem quase todos os analistas, é ao centro que se ganham e perdem eleições.