Há quem diga que não se deve voltar aos lugares onde se foi feliz. Resolvi ignorar o aviso: há 26 anos e alguns dias estava no semanário O Jornal, que deu origem à VISÃO; hoje estou na VISÃO.
Voltei à casa onde trabalharam e ainda trabalham alguns dos grandes nomes do jornalismo português. Com uns cruzo-me todos os dias, de outros ficaram as memórias que não passam. Conheci, trabalhei e aprendi com o Bessa Múrias, o Assis Pacheco, o Cáceres Monteiro, o Silva Pinto, o José Carlos de Vasconcelos, o Luís Almeida Martins, o Pedro Rafael dos Santos, o Afonso Praça, o Fernando Antunes, o Daniel Ricardo, o Pinto Nogueira e o João Segurado, e fiz grandes amigos, também minhas referências, como o José Pedro Castanheira, o Henrique Monteiro, o Rogério Rodrigues, o Ferreira Fernandes. Na redação da Avenida da Liberdade recebíamos (recebiam eles, que a mim nem ligavam) frequentes visitas do José Cardoso Pires e do Augusto Abelaira. Tínhamos um colega, mais novo, o Nuno Ribeiro, hoje no Público, que, sempre escondido atrás do seu cachimbo, até pulava quando via o Cardoso Pires ou o Abelaira. Tinha razões para isso.
O Jornal rompeu com algum do jornalismo que se fazia na época e marcava, com o Expresso, a modernidade e a qualidade da informação em Portugal.
Um dia atravessei a avenida e fui crescer para o Expresso. Foram 26 anos, enormes para mim, que esta semana se interromperam para demonstrar que é possível voltar a ser feliz onde já se foi. Na VISÃO sucedo a dignos herdeiros do Cáceres Monteiro. O Pedro Camacho e a Cláudia Lobo (só não me refiro ao Rui Tavares Guedes, pois ele vai continuar comigo na direção e qualquer elogio seria, portanto, tautológico) mantiveram o prestígio que nasceu em O Jornal e continuou na VISÃO. Os jornalistas que hoje integram a redação (alguns conheci-os na altura, com outros quase me cruzei à porta, mas em geral têm a sorte de serem bem mais novos) permitiram que a VISÃO se mantivesse como o título de referência que é.
E que tudo farei para que continue a ser. Aqui acredita-se no jornalismo, não importa se em papel, se digital, se em vídeo. Sem jornalismo livre não há democracia, sem jornalismo responsável perdem-se valores.
Entre os tempos da Avenida da Liberdade e os de hoje, muito mudou no mundo e na comunicação. Acredito que quase tudo para melhor. A VISÃO, eu, e os diretores-adjuntos Rui Tavares Guedes e Mafalda Anjos queremos que assim continue a ser. E a redação vai obrigar a que assim seja. Espero que os leitores o exijam.
Para a semana preocupar-me-ei com a crise na Grécia, o desemprego em Portugal, as privatizações da TAP ou da Carris, a lei antilóbi, os discursos de Cavaco Silva, de Passos Coelho, de António Costa, com o Serviço Nacional de Saúde e sei lá com que mais. Hoje só queria dizer-vos para contarem com a VISÃO.