Apesar dos avanços conseguidos nas últimas décadas, o cancro continua a ser uma das principais causas de morte por todo o mundo. Para além disso, sabe-se que a quimioterapia é um tratamento agressivo e com muitos efeitos secundários. Entre eles, perda de cabelo, diarreia ou obstipação, náuseas, vómitos, anemia, a lista é muito longa, mas estes são infelizmente um mal necessário para os que padecem desta doença. Alguma vez se perguntou sobre o porquê? Porque têm estes tratamentos tantos efeitos secundários? Haveria alguma forma de os limitar e tornar a quimioterapia mais tolerável?
As células cancerígenas são células do nosso corpo e, como tal,têm muitas semelhanças com as nossas células saudáveis. Quando temos um tratamento para matar as células cancerígenas, o objetivo é garantir que ele só ataca as células malignas e não ataca todas as outras células saudáveis que temos. Os efeitos secundários aparecem quando isso não acontece. É difícil tornar um tratamento cem por cento específico para as células cancerígenas por elas serem tão semelhantes às outras células do nosso corpo. E portanto, ainda que os tratamentos ataquem mais as células malignas, há uma parte que acaba por atingir também as nossas células saudáveis, originando os efeitos secundários que já conhecemos.
Vou falar-vos hoje de uma estratégia que tenta limitar este problema. Há alguns estudos sobre compostos químicos que são ativados por luz. Ou seja, temos um químico que pode matar as células cancerígenas, mas que está inicialmente inativo. Quando irradiamos apenas o tumor com luz, esse químico é ativado e mata apenas as células do tumor, não tendo qualquer efeito nas células restantes. Quero falar de um estudo em particular da Universidade de Leiden na Bélgica, que usa ruténio neste processo. O ruténio é um metal que, nas condições certas, pode ser inofensivo para o corpo humano. O que estes investigadores fizeram foi pegar num químico que mata as células cancerígenas e juntá-lo com ruténio. Quando o juntaram com este metal, descobriram duas coisas: primeiro, que enquanto estivesse ligado ao metal, este químico era completamente inofensivo para qualquer tipo de célula; segundo, que se irradiassem este complexo do ruténio com o composto químico com luz azul ou verde, o químico era libertado e tornava-se ativo. Assim, podemos garantir que este potencial medicamento apenas atinge as células cancerígenas, desde que apenas o tumor seja irradiado com luz azul ou verde. Posso dizer-vos que este processo já foi testado em ratinhos e teve resultados muito promissores. Demorará muitos anos a chegar aos seres humanos, mas é possível que este ou outros tipos de medicamentos ativados por luz sejam uma das futuras alternativas aos tratamentos atuais.
Termino com o maior desafio deste tipo de terapia: a luz não atravessa a barreira da nossa pele. Ou seja, se tivermos um tumor na pele, podemos irradiá-lo e esta estratégia resulta. Num órgão interno, torna-se mais difícil. Ainda assim, já estivemos mais longe de ultrapassar este problema. Há já pequenos tubos com luz que podemos inserir em qualquer parte do nosso corpo para irradiar um tumor. Por enquanto, isso ainda envolve uma pequena cirurgia que permita a inserção do tubo junto do tumor para que a lâmpada possa irradiá-lo, mas quem sabe se de futuro não existirão estratégias mais simples. O que sabemos é que tudo isto continua a ser amplamente estudado para que um dia o cancro possa tornar-se uma doença menor com tratamentos com poucos ou nenhuns efeitos secundários.
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