A economia da felicidade é um ramo da ciência económica que estuda, explicitamente, o bem-estar e em que medida a economia consegue, ou não, aumentá-lo.
O conhecimento que daí se extraí é muito relevante para o desenho de políticas económicas, públicas e privadas.
Mas, em si, não é uma temática que esteja presa à grande clivagem das ideologias económicas do séc. XX: comunismo vs. capitalismo ou, mais especificamente, sistemas de planificação central vs. sistemas descentralizados (em particular, a economia de mercado).
Nem sequer está agarrado às batalhas intelectuais de autores do passado como Marx ou HayeK.
Sejamos claros: uma política desenhada de acordo com o conhecimento ditado pelos resultados da economia da felicidade não é neutra ideologicamente. Nenhuma política o é. Mas não está presa nessa dicotomia, à qual ainda muita gente se agarra.
E, na verdade, os problemas do séc. XXI (nomeadamente a sustentabilidade ambiental e social, as disrupções tecnológicas e a globalização) não têm de ser, nem devem ser, obrigatoriamente, lidos pelo quadro mental de autores do séc. XIX e início do séc. XX.
Mais, apesar de a felicidade ser um objeto de análise filosófica há milénios, a sua análise científica é muito recente e os resultados obtidos são legíveis a partir do momento em que estejam bem definidos o conceito e a metodologia.
É muito empobrecedor forçar tudo o que diz respeito às escolhas de política económica à dicotomia economia planificada vs. economia descentralizada. Quando se opta pela luz científica da economia da felicidade, o objetivo é claro: perceber o que faz aumentar a felicidade sentida pelas pessoas. E desenhar políticas consequentes.
Não se está preso à ideia de que o crescimento económico é bom ou mau em si, à ideia de que certa classe social é boa ou má em si, que certa forma de organização económica é má ou boa em si. Está-se aberto ao conhecimento científico, aceitando os resultados quanto ao que é mais eficaz a gerar felicidade sustentada nas populações.
Nas conferências académicas onde a economia da felicidade é estudada, o debate de ideias é muito rico e rigoroso. Assim o é nas publicações científicas respetivas.
Infelizmente, no debate político, ainda há muito desconhecimento sobre a utilidade da área. E, alguns, ainda sentem a necessidade de encaixar tudo nos rótulos do séc. XX. É um erro. Aproveitemos o que de novo há. E os estudos científicos da felicidade são novos, úteis, dá-nos respostas para os problemas do séc. XX e ultrapassam quadros mentais desatualizados.
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