Mais que numa Sociedade do Conhecimento e da Informação, hoje vivemos num mundo que olha e representa na inovação e na capacidade empreendedora a sua tábua de salvação, a capacidade de acelerar o enriquecimento e as alterações que o ritmo normal das economias e das sociedades permite. Queremos, com fórmulas milagrosas, com projetos sebastianistas, mudar tudo o que nós mesmos não mudamos no normal correr do dia.
E esse desejo de tudo mudar num gesto quase heroico, onde as start ups, especialmente o mito dos unicórnios, remete o seu olhar para a matéria-prima que são as universidades. O Conhecimento é hoje a porta de entrada no universo das ideias exponenciadoras de resultados. Às universidades é pedido o milagre de, em pouco tempo e com poucos meios, fazer na sociedade as revoluções de mentalidade que essa mesma sociedade não fez.
Desde a último quartel do século passado que as universidades foram lentamente alterando a sua função social, promovendo cada vez mais a investigação e dedicando mais investigadores a projetos de pesquisa. O seu trabalho modificou-se, tal como se alterou aquilo que a sociedade espera do Ensino Superior.
Hoje, há uma profunda responsabilidade social que as universidades cumprem na exata medida em que se empenham na ligação à sociedade, especialmente aos organismos públicos e às empresas, funcionando como plataformas giratórias e centros de transmissão de conhecimento.
Assumindo essa função, que modificou radicalmente o rosto e o funcionamento das universidades, o Ensino Lusófona, através da Universidade Lusófona de Cabo Verde, organiza nestes dias (18 a 20 de outubro, no Mindelo, ilha de S. Vicente), o 1º Congresso Internacional: Ciência, Inovação e Desenvolvimento na Lusofonia.
A reflexão desenvolvida, e que foi lançada como repto e desafio a todos os investigadores da lusofonia, reside nesse triângulo complexo entre o fazer Ciência, o que ela nos permite, na sociedade, de Inovação, e como ambas nos conduzem para o Desenvolvimento. Seria por demais longo fazer a análise da necessidade de trabalhar esta equação, mas surge quase como óbvia essa obrigação que a universidade tem de ser agente desta mudança, dando um forte contributo para a melhoria das condições de vida em qualquer dos países lusófonos.
A Lusofonia, de que quase sempre se fala apenas no campo da língua e da cultura, especialmente da literatura, tem de ter uma dimensão de pensamento científico. E o pensamento sobre a Ciência deve estar, naturalmente, aliada aos problemas que, cada país de forma diferente, tem no que respeita ao desenvolvimento. A Lusofonia pode criar imensas redes de trabalho, de partilha e de debate. A Lusofonia permite-nos navegar em diferentes culturas, com diferentes desafios e problemas, mas também com diferentes abordagens que nos enriquecem a todos.
É esse o foco deste 1º Congresso Internacional: Ciência, Inovação e Desenvolvimento na Lusofonia, num quadro em que, olhando mais especificamente para Cabo Verde, nos comprometemos todos a partilhar, a comunicar e a debater. Só nessa postura de Ciência Aberta teremos capacidade para inovar e desenvolver.
Este dia 20, o congresso terminará com a leitura de um documento que, ao mesmo tempo, é desejo, quase utopia, mas também uma afirmação de pragmatismo. A Declaração do Mindelo, que reunirá as conclusões deste grande encontro académico, pretende dar linhas, muito simples, mas eficazes, para esse cruzamento fundamental entre as universidades e a sociedade, permitindo e alavancando o desenvolvimento como hoje o entendemos: equitativo, sustentável e humanístico.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.