Pampilhosa da Serra, 2022: a aldeia de Vilar, submersa durante décadas, reapareceu, devido à seca extrema. Oeiras, também 2022: nas cheias, a Baixa de Algés, depois de décadas à superfície, desapareceu. Conhecendo ambas as paisagens, diria que ficámos a ganhar com a troca. Mas, como Deus dá com uma mão e tira com a outra, este foi também o ano em que Simone de Oliveira se despediu dos palcos, deixando espaço para que os D’ZRT voltassem. Regresso, pelos vistos, tão aguardado como o dos Coldplay, que levou gente a esperar em filas durante mais tempo do que levou a construir o Estádio de Coimbra, e os bilhetes a esgotar em menos do que demorou desmantelar os estádios no Qatar. Em Doha, Ronaldo zangou-se com o treinador porque este estava com uma pressa do c**** para o tirar; em Manchester, tinha-se zangado com outro treinador, que estava com uma calma do c**** para o pôr. Ainda em Terras de Sua Majestade (que, entretanto, passou a ser Carlos III), Boris Johnson teve problemas por causa das festas que deu, e, por cá, Rui Rio, para quem festas só no gato Zé Albino, não teve motivos para celebrar. Costa continuou no poder (“habituem-se!”), Liz Truss ganhou as eleições no Reino Unido, mas 44 dias mais tarde perdeu para uma alface, que foi filmada durante todo esse tempo pelo Daily Star, num directo que muitos consideraram mais interessante do que o BB Famosos português. Bruno de Carvalho discorda, já que foi lá que conheceu Liliana, por quem viria a reverter uma vasectomia e com quem casou, prevenindo assim um regresso das Nonstop, já que ser mulher dele é um trabalho 24 sobre 24. Will Smith deu uma chapada a Chris Rock, por causa de uma piada sobre a falta de cabelo da mulher, e a influencer Cate Gouveia deixou-se fotografar com um cabelo digno de anúncio da L’Oreal, minutos após ter dado à luz, o que também parecia a gozar. Os defensores de Will Smith dizem que as palavras aleijam, o escritor Salman Rushdie fez saber que, para a próxima, preferia que aqueles que se sentiram ofendidos com as suas palavras o magoassem com outras ainda piores, em vez de usarem facas. Em Lisboa, um jovem coleccionou facas e bestas, enquanto planeava um ataque à Faculdade de Ciências, que não chegou a concretizar (como quase sempre acontece com os planos que fazemos na universidade). No país onde quem promete atacar escolas, infelizmente, cumpre, o Supremo reverteu o direito ao aborto, naquilo que Obama considerou ser “um ataque às liberdades fundamentais de milhões”. Usando da sua liberdade fundamental de expressão, Miguel Milhão, fundador da Prozis, deu-se a conhecer em Portugal, mostrando-se antiaborto, e várias influencers prometeram pôr fim à parceria com a marca de batidos de proteína; mas depois começaram a sentir que não recuperavam tão bem no pós-zumba e abortaram esse plano. No Brasil, apoiantes de Bolsonaro juntaram-se para pedir aos extraterrestres que revertessem o resultado eleitoral e, na Madeira, apoiantes de Cristiano Ronaldo (um grupo composto pelas duas irmãs e a mulher) juntaram-se para pedir que o golo de Bruno Fernandes revertesse para CR7. Em ambos os casos, nada feito.
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