1. O Conde de Monte-Cristo
É a produção francesa mais cara do ano, e uma das mais caras de sempre, com um orçamento superior a €30 milhões. Tudo para adaptar ao cinema O Conde de Monte-Cristo, um dos grandes clássicos do escritor Alexandre Dumas (publicado em 1846), aqui transformado em três horas de cinema. Empolgante e aventuroso, ao ponto de já ter levado nove milhões de pessoas ao cinema em França. O feito é conseguido por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, dupla com algum percurso no cinema francês mas que nunca tomara em mãos tamanha empreitada. De Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, com Pierre Niney, Bastien Bouillon, Anaïs Demoustier > 178 min
2. Anora
Não é todos os anos que um filme rotulado como “comédia romântica” recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O mérito é do realizador norte-americano Sean Baker. Mas Anora, obviamente, não é uma comédia romântica qualquer. O filme conta a história de amor entre uma trabalhadora sexual de Nova Iorque e o filho de um oligarca russo. Baker é uma referência do cinema independente que já tinha mostrado o seu talento no extraordinário The Florida Project. Daqui deve partir para voos mais altos. De Sean Baker com Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yuriy Borisov > 139 min
3. A Substância
O regresso da atriz Demi Moore a um papel de protagonista faz-se num filme que tem todas as características do body horror, um subgénero dos thrillers, em que as intervenções no corpo/mente humanos estão em destaque. É a segunda longa da realizadora francesa Coralie Fargeat, também autora do argumento que lhe valeu um prémio na edição deste ano do Festival de Cannes. A “substância” do título, traficada no mercado negro, permite a quem a toma (como a protagonista, depois de ser despedida por a considerarem demasiado velha…) tornar-se uma versão muito aperfeiçoada de si próprio. Mas claro que não vem com literatura inclusa a avisar para os terríveis efeitos secundários… P.D.A. De Coralie Fargeat, com Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Hugo Diego Garcia > 141 min
4. Um Café e um Par de Sapatos Novos
Do albanês Gentian Koçi (Daybreak), conta a história verídica de dois irmãos gémeos surdos desde nascença, com uma doença degenerativa nos olhos que os cega progressivamente. Trata-se de uma condição muito rara e limitativa para quem depende da língua gestual para comunicar. Além das atuações dos irmãos Rafael e Edgar Morais, já muito exaltadas pela crítica internacional, há a destacar a da atriz Drita Kabashi, que desempenha o papel de Ana, a namorada de um deles e cuidadora dedicada dos dois, até ao fim. Um melodrama angustiante, que se apreende quase sem som, tal como é o mundo de Agim e Gëzim. Mas, ainda assim, para ser visto com admiração pela fotografia que nos vai sendo revelada, quer nas paisagens campestres da Albânia, quer na escuridão dos dias na casa de Tirana em que vivem os três. Registe-se ainda que o filme já recebeu prémios em festivais, em Itália, na Macedónia e na Grécia, assim como os atores portugueses, em Pristina, no Kosovo. L.O. De Gentian Koçi, com Rafael Morais, Edgar Morais, Drita Kabashi > 99 min
5. Os Indesejáveis
Ladj Ly tornou-se a mais mediática voz no cinema sobre os bairros suburbanos franceses quando, em 2019, realizou Os Miseráveis, com grande sucesso de bilheteira, prémios em Cannes e nomeação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Chega agora às salas Os Indesejáveis, uma sequência natural, que aborda a mesma temática, mas focando-se na questão da habitação. Ladj Ly parte com a vantagem de ser alguém que vem do interior dos bairros, capaz de nos dar uma perspetiva mais realista e autêntica. Mas em muitas situações parece optar por não o fazer, carecendo os filmes de algum naturalismo formal, de que muito beneficiariam. Tal como dissemos de Os Miseráveis, não é Mathieu Kassovitz quem quer, referindo-nos naturalmente àquele que ainda hoje é a maior referência, depois de realizar O Ódio (1995), deste quase subgénero cinematográfico.
Os Indesejáveis não deixa, contudo, de ter inegáveis méritos, sobretudo o de denunciar a forma como o poder político lida com os “bairros”. Ladj Ly imiscui-se na trama política, dando uma perspetiva de todas as artimanhas em volta dos negócios imobiliários que, depois da gentrificação dos centros das cidades, atacam os subúrbios mais pobres. Um autarca sem escrúpulos serve-se de mecanismos rebuscados no limite da lei para desalojar moradores e implodir prédios… O conflito social é inevitável.
O filme mostra-nos o desespero. E, perante isso, aponta-nos dois caminhos possíveis: o de Haby, jovem ativista, que opta pela luta política, candidatando-se à autarquia; e o do seu namorado, Blaz, que no limite do desespero opta por uma espécie de luta armada. Fazer um paralelo com a realidade portuguesa não é difícil. Tal como não é difícil entender a moral da história: o poder político deve ouvir e servir todos os cidadãos, até porque as pessoas desesperadas têm pouco a perder. De Ladj Ly, com Anta Diaw, Alexis Manenti, Aristote Luyindula > 105 min