O que ainda ninguém disse sobre os manifestantes que insultaram o vice-almirante Gouveia e Melo em Odivelas é que não é fácil ser um chalupa. Condena-se o comportamento daquelas pessoas, critica-se a sua ignorância, lamenta-se a sua agressividade. Muito bem, mas não ignoremos o principal: é muito difícil ser um chalupa. Requer um esforço que deve ser valorizado. Em princípio, o chalupa tem de escolher entre ficar sem amigos ou ter apenas amigos chalupas. Até porque, mesmo dentro do grupo dos chalupas, há chalupas que são demasiado chalupas para outros chalupas. Certos chalupas, por exemplo, rejeitam as vacinas, mas consideram chalupa a alegação de que o 5G permite registar, numa base de dados secreta, os movimentos das pessoas vacinadas. No entanto, estas manifestações congregam vários tipos de chalupa, que toleram as manias absurdas dos outros chalupas. Esta é uma lição que deveríamos aprender com os chalupas.
Os chalupas que mais respeito são os que não rejeitam apenas esta vacina mas todas – e, já agora, rejeitam toda a medicina ocidental. Nunca tomaram uma vacina, mas também nunca ingeriram um antibiótico, nunca entraram num hospital, nunca se submeteram a uma intervenção cirúrgica. Os cientistas que nos impingem esta vacina são os mesmos que nos recomendam as outras, além de nos sugerirem também todas as outras drogas e procedimentos médicos, pelo que não faz sentido confiar neles para umas coisas e desconfiar em relação a outras. Portanto, o chalupa mais coerente é o que rejeita a ciência médica por inteiro. Infelizmente, é difícil conhecer um destes chalupas. Tenho constatado que, por coincidência, têm uma esperança de vida muito reduzida. Mas, em sua defesa, deve dizer-se que nunca passaram pelo embaraço de entabular um diálogo como este, que mantive há dias com um amigo chalupa: