Tinha de ser. De todos os envolvidos nas alegadas burlas à Caixa Geral de Depósitos, o primeiro a ser detido foi Joe Berardo, que tem apenas uma garagem em seu nome. Neste país, são sempre os pobres que pagam as favas. Quando depôs na comissão parlamentar de inquérito, Berardo pensou que o facto de não ter dinheiro nem bens era uma vantagem. Provavelmente por ser pobre, apresentou-se na assembleia sem o material necessário, e viu-se forçado a tourear os deputados sem capote nem bandarilhas. Mas, talvez por falta de experiência tauromáquica, não percebeu que a corrida não tinha acabado quando abandonou, triunfante, o Parlamento, e dois anos depois acabou por ser colhido pela Polícia Judiciária.
Não era preciso mais do que olhar para o seu património para perceber que o comendador não tinha jeito para fazer investimentos: uma garagem, zero carros. Normalmente, as pessoas compram o carro primeiro. Pois foi a este investidor que os bancos resolveram emprestar cerca de mil milhões de euros. Não creio que a culpa seja dele. De resto, a acusação de que Berardo se dedicou à especulação financeira com dinheiro alheio é claramente injusta. Devia ser um louvor. A maneira mais sensata de fazer especulação financeira é com o dinheiro dos outros. Com o nosso, sempre me pareceu demasiado arriscado.