Síndroma do impostor:
Não estou a par do que se tem feito na música, portuguesa ou internacional. Nem no Rap, não estou a par de nada, sobretudo desde que entrei na bolha da maternidade. Deveria saber o que há de novo, estar atualizada, mas perdi-me algures na voragem da maternidade e não consigo acompanhar a voragem da novidade musical da era da internet. Novidade é também receber muitos convites para escrever livros, não sendo escritora. Não estudei Letras. Não li todos os clássicos. Não estou a par de todos os contemporâneos. Não saberei avaliar a qualidade das minhas linhas, ou construir personagens densas. Não saberei escrever bons diálogos, agarrar o leitor ou segurar o suspense. Não tenho noção de voz, registo ou narrativa, não conseguirei erguer e servir uma história. Não tenho um estilo. Também me convidam muito para opinar. Às vezes aceito, quando domino o tema ou tenho interesse especial pelo evento, mas na maioria das vezes não me sinto habilitada. Não sei nada sobre empreendedorismo jovem, violência no namoro, estratégias de estímulo à leitura, marketing digital de música, e muitas outras coisas interessantes, das quais não pesco patavina, embora possa parecer.
Síndroma de Peter Pan:
A coisa que mais me angustia é a passagem do tempo. É demasiado rápida para o tamanho do apego que tenho às pessoas, às fases da vida, às cidades, às casas, às idades e à existência enquanto experiência imersiva. Levei bastante tempo até me considerar uma pessoa adulta e cada vez mais encontro no espelho uma mulher de meia-idade. Custa-me que o meu bebé cresça tão rapidamente, sobretudo pensando que mais dez vezes o que vivemos juntos e ele terá vinte anos. Custa-me pensar na adolescência como coisa de há duas décadas. Pensar quão estranho deve ser para os meus pais terem uma filha de quase quarenta anos. Custa-me antever o seu envelhecimento. Ter de pensar que chegando à metade da vida os desígnios devem reforçar-se, quando na maioria das vezes amolecem. E gerir o tanto de coisas que quero fazer num tempo em encolhimento, sem cair na angústia, na exaustão e no medo.