Numa época em que o conservadorismo tem sido drasticamente posto em causa, é importante pararmos um pouco para pensar, analisar de modo crítico e sem ceder a pressões sociais ou ideais “da moda”.
Vivemos uma fase de profundas mudanças sociais, em que muitos estereótipos são postos em causa, em que aprendemos a tolerar (ou não), em que aceitamos realidades diferentes da nossa e em que apendemos a pôr em causa algumas verdades absolutas. Todavia, este exercício tem que ser feito com muita cautela, para não corrermos o risco de perder o fio à meada, de nos perdermos no meio de tantas novas ideias, de deixarmos de estar conectados à nossa essência e aos nossos valores apenas para tentarmos seguir ideias que alguém nos passa, sem realmente refletirmos.
Há uns dias, em consulta, alguém me dizia que admirava as pessoas que observava no Instagram, a largarem tudo e viverem pelo mundo, de forma livre. Contudo, concluímos que efetivamente este não era sequer um desejo seu pois no fundo gosta muito de viajar, mas adora a sensação de voltar a casa e o facto de ter um sítio para onde voltar. Então, onde foi comprar a ideia de que o ideal de felicidade é largar tudo para viajar livremente pelo mundo? Até pode ser, para alguns, mas não o é para todos e é bom que assumamos isso ao invés de simplesmente comprar uma ideia que nos é vendida como o expoente de felicidade.
Queremos hoje em dia cortar com as amarras do conservadorismo, mas serão as ideias conservadoras totalmente erradas? É preciso mais uma vez olhar com espírito crítico. Se alguém tem o ideal conservador de casar, será isso mau apenas por ser uma ideia conservadora? Se alguém idealiza uma família “convencional” será isso errado? Se alguém pratica a religião católica, será uma pessoa menor? Pertencer muitos anos a uma empresa, como faziam os nossos pais, estará fora de moda? Gostar das festas da aldeia faz de nós seres retrógrados? Diria que, nem tudo o que é conservador tem que ser mau. O valor do trabalho é um ideal antigo, conservador, mas nem por isso errado. O respeito, a família, o compromisso, entre várias que poderíamos enumerar, sendo conservadoras ou tradicionais, não têm que ser erradas.
A informação e as ideias são transmitidas e veiculadas a uma velocidade estonteante. Somos invadidos por opiniões o tempo todo e é importante conseguirmos fazer uma triagem daquilo que chega até nós, refletindo sobre se efetivamente faz sentido para nós ou se estamos apenas a ser levados para não cairmos no rótulo de conservadores, algo de que toda a gente hoje parece ter medo. Conectemo-nos à nossa essência, aos nossos valores, mantendo o espírito aberto a novas opiniões e acima de tudo a capacidade crítica para compreendermos o que faz sentido para cada um.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.