O futuro como se diz popularmente, só a Deus pertence, mas existem vários factos que temos de aceitar, digerir e tirar reflexões. Nada será o mesmo depois deste tempo de pandemia e quarentena em que o supérfluo mostra-se claramente e em que temos de voltar a preocupar-nos com o essencial. Dentro das minhas competências, a comunicação da moda e marcas a ela relacionadas tem de mudar. Edson Athayde, dizia na Meios&Publicidade, uma verdade que muitas marcas de moda perceberam no primeiro momento: “Recomendo respeito pelas pessoas a quem normalmente chamamos de consumidor. Eles são pais, mães, filhos de alguém. Estão ansiosos, tensos, a lutar pela vida, a refazer todos os planos. Trate-os como adultos, parceiros, membros de uma mesma comunidade, a nossa comunidade. Acredite: uma pandemia é uma tragédia coletiva, não é uma oportunidade promocional para si.”
Neste sentido, muitas marcas de luxo e de moda juntaram-se aos seus consumidores, como “família”, seja por ofertas individuais ou por exemplo, produção de gel desinfetante como o grupo de luxo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton, Givenchy, Christian Dior e Sephora, que pararam o seu ritmo normal, produzindo gel e doaram o resultado às autoridades francesas sanitárias. Não podemos continuar somente com uma comunicação de produto ou de promoções. Envolver o consumidor e a comunidade, poder dizer que fazemos parte desta sociedade que sofre e perde como cada um. Não estamos a falar de “calar” a comunicação mas ter a real perceção de que esta situação é mais que gestão de uma crise, é responder a um estado de crise onde todos, consumidores e marcas estão juntos. Nunca como agora foi preciso uma comunicação clara e honesta com os consumidores, sendo que as necessidades estão focadas em coisas essenciais como a preservação da vida própria e dos seus.
Por outro lado, existe um desafio enorme, a que os consumidores chineses aderiram, de uma forma exemplar: o e-commerce, sendo que as marcas de moda de luxo apostaram muito neste aspeto. Cada mais vendo a perspetiva de saída desta situação de quarentena mais alongada, as marcas de moda têm de encontrar formas de chegar aos seus consumidores habituais. Porque não me parece que seja a altura de almejar novos consumidores. O e-commerce, no caso da moda, é uma forma de acarinhar os habituais consumidores. Por outro lado, seja, no caso da moda ou noutras realidades políticas e religiosas, o online está a ser reconhecido como um importante meio de aproximar e dar rosto às pessoas. Não o era? bem, em Portugal, as realidades online de comunicação eram, mas não desta forma. Nem devidamente reconhecidas como tal.
Mais ainda é necessário reforçar a sustentabilidade da moda, como já referi noutra crónica. As marca de moda terão de atuar de maneira sustentável e ética. Não perder o norte, na situação em que se vêem forçadas a diminuir colaboradores, com as fábricas a entrarem em layoff, e perceberem que ter uma boa relação com os colaboradores e trabalhadores é sustentar um futuro e uma marca. Temos a certeza que virá uma geração de consumidores que aceita melhor uma marca que trata bem os seus empregados, uma marca com valores e princípios. Neste período de pandemia, fazer bem é fazer o bem.
A muitos preocupa o pós-pandemia, e, nesse campo, não me atrevo a entrar, pois não tenho uma bola de cristal, e, mesmo tendo, só veria nuvens. Oportunidades de repensar os nossos hábitos e a vida, sem dúvida, mas muito nubladas. Neste momento, o que preocupa é a sobrevivência. Porém, como todas realidades humanas, a moda terá de enfrentar a fragilidade do que tínhamos como certo e da vida humana.