Em primeiro lugar, o que é um expert? As definições variam, mas resumidamente é um indivíduo que ao longo do seu percurso de vida pessoal e profissional adquiriu conhecimentos, competências e skills, numa determinada área, que lhe permitem ter uma opinião útil e relevante na compreensão de determinadas situações, bem como na solução de problemas complexos. Assim, os especialistas têm, normalmente, as respostas que outros procuram, ou pelo menos têm os recursos e técnicas que lhes permitem chegar às respostas. Mas não resolvem tudo. Em questões mais globais são necessários vários experts para se chegar a uma solução ou em problemas mais globais por vezes é preferível recorrer a pessoas com uma visão mais holística do problema em questão.
A regra das 10.000 horas para ser um expert
Vivemos num mundo de experts, onde o conhecimento específico é valorizado. Mas se isso é assim porque não somos todos experts em algo? Ou seja, é do senso comum que ser especialista tem mais vantagens do que desvantagens, logo seria natural termos muitos mais especialistas pelas diferentes funções e profissões que existem. Mas, na realidade, isso não acontece, e por isso o seu valor de mercado sobe.
E não acontece porque: em primeiro lugar a multiplicidade de interesses que existe leva muitas pessoas a quererem ser mais generalistas do que especialistas, depois porque muitos dos ex-especialistas evoluíram para funções globais de gestão ou simplesmente foram ultrapassados por outros mais actualizados. Mas a principal razão para não existirem mais especialistas prende-se com a atitude necessária para atingir esse patamar.
Tornar-se um expert é difícil, mas tornar-se um dos melhores especialistas em algo é muito difícil! Não é algo que seja inato, e por isso dá muito trabalho. Este assunto já foi estudado por diversas vezes, mas foi em 1993 que surgiu uma teoria sobre o mesmo, designada pela regra das 10.000 horas para ser um especialista. Este conceito teve origem no professor Anders Ericsson da Universidade do Colorado, mas tornou-se verdadeiramente conhecido do público geral através do livro Outliers de Malcom Gladwell, de 2008.
Existiram já várias críticas ao facto de se ter tentado simplificar algo bastante complexo, mas penso que a mensagem principal deste estudo passa por caracterizar o que é necessário fazer para ser um especialista e, logo, ter sucesso na vida. Claro está que estas 10.000 horas são uma média e que funcionam quase que simbolicamente de forma a indicar que são necessários anos para se poder dominar uma determinada matéria ou mesmo um instrumento (como o caso do violino que é dado como exemplo no livro).
Como tornar-se um especialista
Assim, só alguém muito perseverante, resiliente, com capacidade de aprendizagem contínua e de superação poderá ser um especialista. Claro que também ajuda se for um “predestinado” ou “génio”, mas não invalida que mesmo esses tenham de trabalhar milhares de horas para atingirem um nível muito elevado e destacarem-se dos outros.
De acordo com Anders Ericsson, se quer tornar-se um expert deve fazer o seguinte:
– Ter ajuda: encontre um mentor que possa ajudá-lo a fazer melhor. Imagine que está focado em ser o melhor em algo, mas se tentar durante as 5.000 das 10.000 horas de forma errada nunca o será.
– Treine, pratique e experimente muito: não só aumentando o grau de dificuldade, mas acima de tudo de forma diferente. Desenvolva atividades específicas para testar os seus limites e pontos fracos
– Ser um especialista representa saber fazer e não só saber. Para tal convém ter um sistema que o ajude a melhorar aos longos dos anos de aprendizagem e que tem de passar por ter foco, obter feedback imediato e corrigir.
– Estude o passado para ter um futuro melhor: encontre exemplos que já foram escrutinados e questione-se sobre as razões do sucesso e insucesso.
A estes pontos devemos ainda acrescentar que só com paixão pelo que se faz se conseguem atingir níveis de excelência, pois só quando se gosta de algo é possível investir tanto tempo no desenvolvimento de uma actividade e na procura constante de melhorar o que faz. A humildade e capacidade de escutar os outros é também fundamental, sobretudo para se manter no topo durante muito tempo. Por vezes o sucesso torna as pessoas “surdas”, pensando que já não têm nada a aprender com ninguém. Este é normalmente o primeiro erro para serem “ultrapassados” por outros que se mantêm de espírito aberto e, lá está, procuram evoluir com o feedback que vão recebendo.
Não espere ser verdadeiramente bom em algo onde só se aplicou durante algumas horas. E prepare-se para ser criticado por não ter sucesso imediato. Mentalize-se que terá de enfrentar momentos de grande frustração… Mas tenha a certeza que com 10.000 horas de trabalho será sempre melhor que um génio com 1.000 horas desse mesmo trabalho. O melhor exemplo que encontro é o de Cristiano Ronaldo, que é claramente um ícone de todo o esforço necessário para triunfar. No fim, o esforço compensa e deverá então focar-se em como tirar o melhor dessa sua especialização, nunca esperando que a fama e glória venham num curto espaço de tempo.
Como nota final gostaria ainda de acrescentar que são muitas as pessoas que aproveitam os seus hobbies como a forma de se especializarem em algo. Quando estão preparados esses hobbies passam então a ser a sua ocupação principal e fonte de rendimento, pois tornam-se conhecidos como experts e passam a conseguir monetizar essa competência. Um exemplo disso mesmo são os fotógrafos profissionais que (quase) todos começaram por puro prazer.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)