Acredito que a internet pode ser uma ferramenta útil para se aprender mais sobre alimentação saudável. Com algum cuidado. Mas dada a proliferação de informação sobre alimentos, nutrição e saúde em todo o lado, este cuidado é generalizável e não torna a internet pior ou melhor do que qualquer outro meio. É mais rápida, possui mais informação detalhada e, em muitos casos, é completamente gratuita e disponível 24h por dia – o que não é nada, mas mesmo nada de desprezar. Tem apenas um senão: na internet estão os mais perigosos charlatões do mundo a par de informação de alta qualidade e dos melhores cientistas e nutricionistas internacionais. Tudo no mesmo saco tecnológico. É apenas uma questão de saber escolher e de querer receber informação honesta e de qualidade. Em muitos casos, somos nós que procuramos soluções irrealistas para os nossos problemas, e aí começa quase sempre “o problema”.
O Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS tem no “ar” um site, um blog, Twitter e Instagram dedicados à alimentação saudável e, desde 2015, temos vindo a assinalar alguns cuidados no acesso à informação nutricional nas redes sociais que aqui amplificamos e atualizamos. Entre outros cuidados, quando procura na internet informação sobre nutrição e alimentação saudável:
– Verifique se é fácil identificar quem é o responsável pela informação colocada no site ou blog.
– Antes de começar a ler, verifique se existe uma ligação institucional (a uma universidade, a um organismo oficial, a uma organização não governamental, a um instituto) de preferência ligada à saúde.
– Leia com precaução a informação proveniente de blogs ou sites ligados a interesses comerciais ou a empresas que vendem produtos alimentares.
– Verifique se os sites identificam o nome do autor ou autora dos textos e se é alguém que trabalha na área, por exemplo, um profissional de saúde inscrito na respetiva Ordem profissional (Médicos, Nutricionistas, Farmacêuticos…). Por vezes, em alguns sítios descreve-se a biografia do autor, o que ajuda muito.
– Verifique se no site, blog ou Facebook existe um “disclaimer” ou “termo de utilização”. Para ler um exemplo, leia o do blog da DGS.
– Se receber informação alimentar ou nutricional proveniente da internet valide esta informação junto de um profissional de saúde, em particular se sofre de alguma doença ou toma alguma medicação. Lembre-se que certos alimentos consumidos em quantidades elevadas e regularmente podem, por exemplo, impedir ou potenciar a absorção de certos medicamentos.
– Se quiser mudar bastante a sua alimentação, por exemplo iniciar um plano de restrição energética para perder peso, nunca o faça exclusivamente a partir de informações via internet. Consulte sempre um profissional de saúde antes de iniciar uma modificação drástica na sua alimentação e verifique se o plano é individualizado. As oscilações bruscas de peso associadas a dietas mal sucedidas, podem ser mais perigosas do que manter o peso excessivo. Só avance se tiver a motivação e a equipa certa para dar o primeiro passo.
– Prefira espaços interativos. Onde pode fazer perguntas e verificar o teor das respostas. Compare a mesma informação em diferentes sítios e veja se existe alguma uniformidade.
– Se existirem referências a artigos científicos ou outras fontes de informação, veja se é mencionada a informação original e se é fácil lá chegar e ainda se está atualizada. Leia o artigo científico do princípio ao fim e não apenas as frases selecionadas e desconfie de descobertas milagrosas. Na relação entre os alimentos e a nossa saúde o conhecimento avança de forma consistente… mas sem milagres de última hora.
– Evite sites que lhe pedem informações pessoais ou de outro teor sem justificarem muito bem por que razões o fazem e como a irão utilizar.
– A publicidade a alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares faz-se de forma dissimulada e, cada vez mais, no mundo digital. Verifique, em particular, os sites onde o seu filho joga, estuda ou partilha informação. Esses são cada vez mais os espaços preferidos para influenciar consumos. Espreite, participe a fale do assunto com o seu filho.
As redes sociais e a internet podem ser hoje uma ajuda informativa preciosa, em particular a existente em locais fidedignos. Mas também uma forma de influência a favor de consumos alimentares de má qualidade. O importante é aprender a navegar nestas águas incertas.