Para conquistar o mercado dinamarquês, a Quinta da Boeira Arte e Cultura, criou um conceito diferenciador aliando a história à arte vínica, e levou a Copenhaga várias réplicas de naus que “atracaram” no edifício da Bolsa. A seu lado estavam outras marcas portuguesas de vinho, queijos e enlatados que podiam dar-se a conhecer durante uma prova de vinhos que recebeu mais de 2 centenas de convidados, entre jornalistas, distribuidores, empresários, consumidores locais e até apaixonados por Portugal. E não é exagero apresenta-los desta forma. Quando se conhecem pessoalmente e se ouvem a falar do nosso país, com um português correto e fluente, conhecedores da nossa história e cultura, do nosso património e gastronomia, podemos até dizer que são fãs!
Ao que parece não são os únicos. Diz o Embaixador de Portugal na Dinamarca, Rui Macieira, que os portugueses são muito bem vistos naquele país e que os produtos e marcas portuguesas são apreciados e reconhecidos. Em especial o vinho do Porto. Por isso a Dinamarca é um mercado com potencial de crescimento. Mas já lá vamos…voltemos à prova de vinhos.
Vivi há dias a experiência de, pela primeira vez, ser integrada num júri de avaliação de vinhos do Porto. Ainda era cedo, pouco passava das 10H da manhã, e na mesa de prova estavam perfilados 5 vinhos, com 5 idades diferentes. Foi uma forma pouco comum de começar o dia…ainda por mais quando o momento me dava a possibilidade de fazer uma viagem de 200 anos pelos sabores do vinho do Porto. Não me atrevo a qualificar cada um deles, dos 10 aos 40 anos de estágio, juntando-se um Very Old Tawny, porque não é esse o meu propósito neste texto, fico-me pela percepção que a marca me criou como consumidora e nessa condição posso dizer que todos eles são bons…
A história da Quinta da Boeira foi também uma boa surpresa. A iniciar-se na exportação de vinhos do Porto, esta marca de Gaia, pouco conhecida no mercado interno, está a fazer um investimento de 38 milhões de euros num projeto que une os vinhos à gastronomia e ao turismo. Com origens que remontam ao século XIX, quer posicionar-se nos mercados premium e, diz o Administrador Albino Jorge, afirmar-se no mercado dos vinhos com produtos de excelência com uma carga histórica indissociável. Daí este projeto, que une a cultura histórica portuguesa aos vinhos. Em 2018 estreia-se na hotelaria abrindo, no centro histórico do Porto, uma unidade cinco estrelas, Oporto Boeira Garden. Do que em pouco tempo tive oportunidade de conhecer, tudo nesta marca tem um toque especial. Bom gosto, requinte, qualidade do produto, design das embalagens…não me surpreende se daqui a algum tempo ouvirmos falar bastante mais dela.
Sobre o potencial deste mercado, trago a percepção que a Dinamarca é um bom investimento para as marcas portuguesas. A Quinta da Boeira tem a caminho de Copenhaga 50 mil garrafas e há fortes expectativas de aumentar as vendas. Rui Macieira diz que a Dinamarca tem um consumidor conhecedor e exigente que procura qualidade e excelência. E partilhou, durante um jantar na Embaixada de Portugal, a certeza de haver possibilidade de crescimento para marcas portuguesas, em particular de bens de consumo de qualidade e preço superior. São mercados potencialmente mais importantes do que os que procuram preços baixos, onde Portugal não é tão competitivo. E se os portugueses são bons a produzir qualidade, então sim, vale a pena apostar mais em branding e elevar o posicionamento das nossas marcas nos mercados europeus, na sua opinião aqueles que estão mais aptos a apreciar e valorizar a história e origem dos nossos produtos.
Se olharmos para as estatísticas de relacionamento económico entre Portugal e a Dinamarca, e falarmos com os importadores locais, percebemos que os vinhos têm potencial de crescimento. Ocupam já a segunda posição nos principais produtos exportados (sendo líder o calçado) e estão hoje a ser mais apreciados pelos mais jovens que começam a apreciar vinhos com história e tradição.
Nesta viagem foi tema de conversa o excesso de produção de vinhos do Porto e a oportunidade de mercado que existe para startups que queiram apostar neste segmento. Havendo tanto empreendedorismo no país, talvez haja novos talentos a quererem apostar no Port Wine e na diferenciação das suas marcas. Quem sabe se os 500 anos da primeira viagem de circum-navegação intentada pelo navegador Fernão de Magalhães, que se celebram em 2019, não são uma inspiração para Portugal continuar a navegar pelos mercados globais.