O conceito de Psicopatia nos manuais de diagnóstico das perturbações mentais remete para a descrição de características da personalidade observadas em pessoas (sobretudo homens) que apontam para a prática do mal ou, dito de outra forma, para comportamentos moral e eticamente condenáveis.
É enfatizado que são homens incapazes de empatizar, intolerantes à frustração, incapazes de sentir culpa ou vergonha, manipuladores, irresponsáveis, agressivos, violentos ou cruéis, mas ao mesmo tempo sedutores.
Este perfil de pessoa poderá “vestir” a pele de um delinquente comum que passará a sua vida à margem da sociedade ou numa prisão ou, a outro nível, por exemplo, a pele de um político, de um banqueiro, de um jornalista, médico ou advogado, ou ainda de um qualquer outro cidadão aparentemente normal com ou sem notoriedade pública.
Certa vez quando fui capaz de perguntar a um amigo austríaco como é que ele interpretava o Nazismo, respondeu-me: “O Nazismo é aquilo que acontece quando um grupo de psicopatas maus consegue tomar o poder”.
De tudo o que foi referido acima ressalta a ideia da colagem da psicopatia ao profundo desrespeito pelos sentimentos, liberdade e direitos do outro, ou seja, reitera-se, a ideia do mal.
Contudo, talvez não devamos olhar para a psicopatia desta forma tão restritiva e directa. Para a compreendermos melhor, teremos que verificar a questão da capacidade de empatizar, cuja ausência é tida como condição no psicopata.
Pessoalmente não penso da mesma forma e partilho da opinião de alguns que os psicopatas são capazes de empatizar e induzir fortemente no outro a firme convicção que por ele têm compaixão. Este fenómeno da empatia do psicopata ou da simulação da compaixão aparece muito bem retratado no personagem “Alex” (Malcom McDowell) do genial filme de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica. Alex empatiza e simula compaixão pelas suas vítimas para as conhecer melhor e delas tirar partido de seguida, na sua crueldade sem limites. Todavia no filme fica claro que Alex nunca se compadece das suas vítimas, o que permite separar a empatia como instrumento útil do psicopata, do sentimento de compaixão inexistente, ainda que simulado.
Assim, o psicopata é capaz de empatizar compreendendo e partilhando com a razão os sentimentos do outro mas, genuinamente, não consegue sentir compaixão. Por isso pode agir livremente em função dos seus interesses, porque incapaz de se compadecer pode viver sem culpa ou remorso. Age e faz, seduz e manipula, intimidando e convencendo e com isso ganhando vantagem e domínio sobre os outros o que significa, particularmente no mundo competitivo de hoje, ter fortes probabilidades de atingir posições de liderança e comando.
Neste sentido o percurso para a liderança de um psicopata passa quase sempre pelo uso dos maus meios. Diria que outro tipo de lideranças (e muitas felizmente ainda há) percorrem um caminho mais “limpo” e eticamente impoluto, o que nos garante apesar de tudo uma vivência em sociedade mais “arejada”.
É aqui que nos pode ocorrer um bom sobressalto. E se um psicopata afinal usar os seus maus meios para bons fins?
Tal é naturalmente possível e acontece no nosso dia-a-dia. Por isso é possível afirmar que já houve e há grandes lideranças políticas com líderes psicopatas que contribuíram e podem contribuir muito para a melhoria da humanidade. Deixo ao leitor esta reflexão e um desafio. Que tal analisarmos as nossas figuras públicas em função desta matriz que cruza psicopata e não psicopata, com bem e mal. Certamente que iremos encontrar muitas surpresas ressalvando-se mais uma vez que um psicopata pode ser empático e contribuir para o bem da humanidade. Os meios que usa para tais desideratos é que podem não ser os melhores. Que o digam as suas vítimas.