Depende! Esta é uma questão pouco consensual, pelo que importa tentar analisá-la de forma objectiva. Para isso, temos de abordar o assunto sob duas perspectivas: 1) o risco para a própria criança e 2) o risco para quem convive com a criança.
Risco para a criança
Apesar de estar enraizado na nossa cultura que as crianças doentes não devem sair de casa porque estão mais fragilizadas e a doença pode ficar mais grave, na maior parte dos casos isso não está completamente provado. A maior parte das doenças pediátricas são infecciosas, destas, a grande maioria é provocada por vírus, o que significa que são situações que não comportam grandes riscos e que acabam por passar com o tempo. Todo o meu texto seguinte tem por base este pressuposto, excluindo-se obviamente destes conselhos doenças mais graves e que necessitem de cuidados particulares.
Tal como referi, a maior parte das doenças são relativamente “benignas”, mas não deixa de ser verdade que muitas vezes as crianças ficam mais “em baixo”, especialmente quando têm febre. No entanto, é também suposto que melhorem quando a temperatura regressa ao normal, pelo que nesses casos não precisam de nenhum cuidado em particular. Como é lógico, não devem andar ao frio, principalmente porque este é desconfortável, mas na verdade não agrava propriamente o quadro (aumenta apenas o desconforto).
Assim, o mais importante é mesmo olhar para o estado geral da criança e para o seu comportamento. Se ela estiver a agir da forma mais ou menos normal, a brincar (e a fazer asneiras, que é um óptimo indicador de que a criança está bem), penso que não é necessário mantê-la em casa fechada enquanto está doente. Isso é quase um segundo castigo, pois para além da doença ainda tem que estar privada do seu nível de actividade habitual. Deste modo, o conselho é que se o estado geral da criança for bom, ela pode sair à rua e fazer uma vida o mais normal possível, incluindo muitas vezes o regresso à escola (se não tiver febre nem nenhuma doença contemplado no Decreto Regulamentar que define as doenças de evicção escolar obrigatória). Brincar ao ar livre é sempre boa opção e, na maioria das vezes em que as crianças estão doentes, não as prejudica nada. Pode até ajudar no processo de cura…
Risco para os conviventes
Tal como referi acima, a maior parte das doenças infantis são infecciosas, pelo que é inegável que o risco de contágio existe e isso é algo que deve ser considerado. No entanto, esse aspecto nem sempre é um problema significativo, uma vez que a maior parte dos casos são doenças víricas e pouco graves. De qualquer forma, é importante preservar os conviventes nalgumas situações, nomeadamente quando:
– a doença pode ter gravidade significativa (tuberculose, por exemplo)
– existe algum convivente que tenha o sistema imunitário debilitado (pessoas a fazer quimioterapia ou com SIDA, por exemplo)
– existe contacto com grávidas (a maior parte das doenças infantis não comportam riscos para os fetos em desenvolvimento, mas é sempre boa ideia tentar que as grávidas não fiquem doentes, porque ficam mais cansadas e menos confortáveis)
– existe contacto com bebés pequenos (as defesas dos bebés pequenos ainda não estão completamente desenvolvidas, pelo que têm um maior risco de desenvolver determinadas doenças, bem como de apresentar quadros clínicos mais graves)
No entanto, não é fácil isolar propriamente uma criança doente nem isso é necessário para a grande maioria das situações. O mais importante é lidar com o risco de contágio com bom senso e tentar, dentro do possível, impedir a disseminação das doenças. Isto nem sempre é fácil de conseguir, uma vez que muitas vezes as crianças partilham tudo, inclusivamente brinquedos, chupetas, comida, talheres e afins, mas pode e deve ser tentado.
Em jeito de conclusão, diria que é importante tentar contrariar um pouco a ideia de que estar doente é sinónimo de clausura, porque isso não é verdade. As crianças precisam de sair de casa e quando estão doente podem (e devem) fazê-lo, desde que o seu estado geral assim o permita.