Desde os seus primórdios, uma fotografia nunca acabou no momento em que o botão do obturador é premido. Na fotografia analógica é preciso revelar o filme na câmara escura; já na fotografia digital os ficheiros de imagem precisam de ser revelados num programa de edição de imagem. Só assim o processo fotográfico fica completo, explorando o máximo potencial de uma fotografia e transmitindo a mensagem visual pretendida.
Nas câmaras fotográficas atuais, muitos dos parâmetros essenciais de edição podem ser definidos diretamente no equipamento, ficando o resultado gravado no formato JPEG. Todas as fotografias que julgamos estarem intocadas — sejas as feitas por um telemóvel ou por uma câmara fotográfica — estão sempre a sofrer processamentos básicos, nomeadamente ao nível do brilho, do contraste, da saturação, das correções de problemas óticos (vinhetagem, distorções, aberrações), entre outros.
Todavia, quando se almeja o melhor resultado possível, é essencial fotografar no formato RAW, exponencialmente mais rico em informação tonal do que o JPEG, processando o ficheiro com o devido cuidado e minucia no computador. Claro está, se não puder ou não quiser usar o formato RAW, o JPEG também poderá ser editado, mas a flexibilidade é muito menor e muitos dos ajustes já operados pela câmara são irreversíveis. Em qualquer um dos casos, e sem complicações, apenas precisará de um programa que trabalhe com estes ficheiros, como Adobe Photoshop Lightroom ou outra aplicação similar.
Nunca deixe de ter em mente que nada substitui uma boa técnica fotográfica no terreno, pelo que a edição de imagem deverá ser encarada mais como uma forma de aprimorar a fotografia do que de remendar/reparar problemas técnicos à posteriori. Também é preciso considerar que cada caso é um caso, logo não existe uma fórmula mágica para editar todas as fotografias, sendo mais importante entender os processos e doseá-los em função das necessidades e do gosto individual.
Evidentemente, as possibilidades de edição são vastas (e, repare-se, nem sequer se está a entrar no campo da manipulação) e não cabem todas neste artigo, mas a boa notícia é que uma fotografia pode melhorar dramaticamente com um simples punhado de ajustes, todos muito intuitivos e acessíveis até ao fotógrafo mais iniciado.
Os passos seguintes ilustram o ponto de vista anterior, podendo o leitor apreciar o processo e o resultado através das imagens presentes no final do artigo e, para já, do vídeo com menos de um minuto aqui partilhado. Boas fotos!
Clique para ver o vídeo onde são revelados, em passo acelerado, os oito ajustes operados na imagem original, melhorando-a dramaticamente com ajustes subtilmente eficazes e simples. © Joel Santos – www.joelsantos.net
PASSO 1 – Equilíbrio de brancos
É frequente registar imagens com um equilíbrio de brancos automático ou usar um predefinição que não se ajusta à temperatura de cor da fonte de luz dominante na imagem, criando dominantes de azul/amarelo ou verde/magenta, fazendo com que os tons, particularmente os cinzentos e os brancos, apresentem desvios cromáticos face ao observado. Assim, ajustar o equilíbrio de brancos em edição é fulcral, quer para adequar o resultado ao observado, quer para o afastar criativamente. A escolha é subjetiva, mas, nesta imagem em particular, o original apresentava uma forte dominante azul, pelo que se ajustou a temperatura de cor, “aquecendo” um pouco mais a imagem
PASSO 2 – Contraste
Quando se fotografa no formato RAW, caso em que a câmara não opera ajustes automáticos, é normal as fotografias terem um aspeto “plano”, na medida em que contraste tonal não é o satisfatório. Assim, desde que a cena fotografada não apresente por si só um contraste excessivo (com altas luzes sobreexpostas e/ou sombras subexpostas), ajustar o contraste ajudará a enegrecer os meios tons escuros e, simultaneamente, a aclarar os meios tons claros, aumentando o impacto visual e a tridimensionalidade à imagem. Foi precisamente o que aconteceu nesta imagem, existindo ainda o efeito secundário de, indiretamente, reforçar a vinhetagem (escurecimento dos cantos) originalmente criada pela objetiva ultra grande-angular, o que ajuda a destacar o elemento humano presente no centro da composição.
PASSO 3 – Sombras e/ou altas luzes
Quando se fotografa é habitual proteger as altas luzes, ou seja, definir a exposição de forma a que não existam áreas sobreexpostas na fotografia, pois a perda de detalhes poderá ser irreversível. Por esta razão, também é usual as zonas de sombra serem sacrificadas, ficando mais escuras do que o desejável e do que havia sido observado. Deste modo, sobretudo depois de ter sido aumentado o contraste, poderá ser interessante clarear especificamente as áreas de sombra, recuperando e revelando detalhes que tenham ficado obscurecidos. Na fotografia de exemplo, tal foi essencial para resgatar detalhes na roupa e no cabelo do elemento humano, bem como em certas áreas dos pilares da ponte. Neste caso não foi necessário ajustar as altas luzes, muito embora tal seja uma necessidade recorrente em vários registos fotográficos.
PASSO 4 – Saturação
A intensidade da cor está frequentemente correlacionada com o impacto visual que atribuímos a uma imagem. No entanto, nem sempre a saturação excessiva é agradável, podendo afastar o resultado do cromatismo originalmente observado e, pior ainda, prejudicando a mensagem visual pretendida — em suma, fazendo uso de uma pequena redundância, por vezes, a “saturação satura”. Seguindo esta ordem de ideias, na fotografia de exemplo optou-se por uma dessaturação subtil, amenizando algum do exagero cromático induzido pelo anterior ajuste do contraste e, paralelamente, conferindo alguma “tranquilidade” aos azuis que dominam a composição.
PASSO 5 – Correção da perspetiva
Tendo como caso mais evidente a fotografia em zonas urbanas, nas quais a presença de linhas retas verticais é constante, muitas fotografias irão exibir problemas de perspetiva. Isto porque, ao adotarmos um ponto de vista mais baixo do que as estruturas fotografadas, as linhas tenderão a convergir em direção ao centro do topo da composição. Este fenómeno pode ser corrigido no terreno com o uso de objetivas muito específicas — as tilt and shift —, mas são raras as pessoas que as possuem, dada a sua especificidade e preço. Assim, embora com os devidos efeitos secundários, pois será inevitável efetuar recortes no enquadramento original (ver passo seguinte), é possível amenizar as distorções de perspetiva — neste caso prático, a vertical — através de ajustes digitais, tornando os pilares da ponte, as grades laterais e o candeeiro ligeiramente mais aprumados.
PASSO 6 – Reenquadramento
Não raras as vezes reparamos, à posteriori, que a composição inicial beneficiava com um reenquadramento da imagem, tipicamente para ocultar elementos indesejados, para endireitar o horizonte, para redefinir a proporção da imagem ou, por fim, para excluir as partes excedentárias da imagem devido a correções de perspetiva. Nesta fotografia de exemplo, tal como fica patente no vídeo partilhado, foi imprescindível recortar a imagem devido à última razão aqui apresentada, procurando que os varões inferiores das grades laterais coincidissem com os vértices inferiores do enquadramento.
PASSO 7 – Elementos indesejados
Quando se usa uma câmara de objetivas intermutáveis é inevitável, mais cedo ou mais tarde, aparecerem manchas na imagem, provocadas por pontos de pó na superfície do sensor digital de imagem. Embora este possa ser eficazmente limpo com o material adequado, certamente não é a solução ideal enquanto se está a fotografar. Como tal, resta eliminar as referidas manchas através de uma ferramenta de correção localizada, copiando uma área “limpa” para cima da zona afetada. Foi o que aconteceu em algumas zonas do céu desta fotografia de exemplo, a par de uma embalagem vazia que se encontrava sobre as tábuas do pontão, também ela ocultada através da mesma ferramenta.
PASSO 8 – Nitidez
Apesar de ter sido usado um tripé (o que evitou uma imagem tremida, sobretudo dada a longa exposição, que tomou 42 segundos) e de ter sido maximizada a profundidade de campo (usou-se uma abertura de f/14, a qual, dada a distância focal equivalente de 16mm e a distância de focagem de 1.5 m, garantiu nitidez desde o primeiro plano até ao infinito), o ficheiro no formato RAW beneficia sempre de um ajuste do micro contraste. Por outras palavras, regra geral, é uma boa ideia afinar, digitalmente, a nitidez global da imagem, aumentando o detalhe percetível nas áreas com texturas. Neste caso, onde existem algumas áreas parcas em texturas, como nas nuvens com arrasto por movimento no céu, pode ser benéfico criar uma máscara de proteção nessas zonas, para que este ajuste não as danifique desnecessariamente — algo que aconteceria, certamente, se fosse a câmara fotográfica a tomar conta deste processo —, um recurso muito fácil de usar em programas como o Lightroom, entre outros equiparados.