1. Onde desencanta a RTP os repórteres que envia para o Rio de Janeiro? Terá o jornalista da estação pública de se despedir com um beijo de Telma Monteiro, em frente do ecrã, sem lhe fazer uma pergunta digna desse nome, depois da atleta portuguesa ter conquistado a medalha de bronze na sua modalidade, o judo? É esse o serviço público que a RTP está obrigada a prestar? E a esta indigência condenado, o telespetador? Também já foi o jornalismo contaminado com a praga dos afetos que infetou MRS?
2. De onde vêm os comentadores das modalidades olímpicas que a RTP transmite? Saberão os senhores – suponho que também haja senhoras mas ainda não tive oportunidade de ouvir nenhuma – que quando se diz “há uns anos” não se lhe junta “atrás”? Não se espera que sejam Edites Estrelas da língua portuguesa mas não podiam escolhê-los melhor?
3. Já viram bem a margem lisboeta do rio Tejo? Lembram-se da polémica dos anos 90 sobre a devolução do rio à cidade? Da guerra entre a administração do porto e a câmara municipal? Do Dafundo até Alcântara, é só contá-los: o edifício da Fundação Champalimaud, o hotel Altis Belém, o nova Fundação EDP, os dois restaurantes à borda de água que estão a ser remodelados… Não era contra a muralha de betão que separava o rio das pessoas e da cidade que se insurgiram tantos lisboetas? Pois então passem por lá…
4. Com a cidade de Lisboa a abarrotar de turistas, lembrar-se-ão os operadores de serviços de transportes públicos que talvez fosse uma boa ideia aumentar a frequência de comboios, autocarros e elétricos? Nos comboios da linha de Cascais, usada por muitos visitantes que procuram as praias mais próximas de Lisboa, só se consegue um lugar empurrando as pranchas de surf e as alcofas com toalhas e chapéus-de-sol. Os autocarros, sempre pouco recomendados, só são uma solução para quem não tem solução, sobretudo se os tentarem apanhar no Cais do Sodré. E se vive no eixo Graça-Estrela nem pense em tentar entrar no 28, tornado em monumento ao turismo de massas. Infelizmente, dos episódios contados no parágrafo anterior pode-se inferir que a passagem da Carris e do Metro para a Câmara de Lisboa não deverá melhorar muito a situação…
5. O jornalismo já viveu melhores dias, é certo. Mas encher os ecrãs das televisões de chamas, de repórteres impreparados, de pessoas a reclamar contra o vento e a canícula, de bombeiros que aproveitam o seu minuto de glória para filosofar, será mesmo a melhor forma de fazer a cobertura dos incêndios florestais? Sobretudo quando se sabe, de ciência certa, que as chamas nas televisões incendeiam a pulsão dos incendiários? A complexidade do problema, as responsabilidades dos decisores políticos, as técnicas de combate aos fogos, a gestão da floresta portuguesa, os meios humanos dos parques naturais, a formação dos bombeiros e os equipamentos para combater os fogos não mereceriam uma atençãozinha?