Os políticos portugueses – e outros – têm o hábito de não fazer contas. Por isso, apresentam-se ao eleitorado com propostas irrealistas ou com propostas cujos impactos não podem ser estimados. Por causa deste hábito, é muito difícil pedir-lhes contas na altura em que estão a governar.
Fazer contas nem sempre é fácil. Quando estas são estimativas sobre o que pode acontecer no futuro, são contaminadas em maior ou menor grau (depende da complexidade do exercício de previsão) pela incerteza. Na área económica são especialmente difíceis porque têm de lidar com variáveis exógenas cujo comportamento é difícil de prever e cujo controlo não depende de (qualquer) governo. Por isso, muitos as desacreditam como balelas eleitorais. Contudo, continuam a ser o melhor instrumento de que dispomos, a não ser que acreditemos em duendes e no Pai Natal.
O Partido Socialista, que desafia nas urnas a coligação que nos governa há quatro anos (sobretudo por causa dos erros de outro governo socialista), decidiu fazer, antes da corrida eleitoral, as contas ao seu programa de governo. É verdade que já as havia feito, de forma menos detalhada, quando apresentou o cenário macroeconómico que fez doutrina no programa eleitoral. Agora, decidiu pormenorizar. Bem haja!
Segundo Mário Centeno, candidato a deputado e coordenador do cenário macroeconómico a que já aludimos, os dados apresentados aos portugueses na quarta-feira, 19, são uma simulação e não uma previsão. António Costa, contudo, durante a mesma apresentação, assegurou que não se tratava de um “saco de palavras” nem de uma “soma de promessas” mas de “compromissos para a próxima legislatura”. Portanto, estes números são mais do que referências – são o que o PS se propõe fazer no caso de ser o partido maioritário a 4 de outubro e de formar governo.
Segundo o documento, em 2019 uma governação socialista colocaria a dívida pública em 118% do PIB e o défice em -1,4% do PIB. O desemprego, o cartaz de batalha cujo cavalo saiu trocado ao PS, será, segundo as estimativas, de 7,2%.
Os número são irrealistas, já disseram alguns mal os dados foram apresentados. Porém, a grande vantagem destes estudos econométricos que simulam a realidade futura é mesmo essa: permitir uma discussão mais elevada e mais sofisticada do que aquela que normalmente anima as campanhas eleitorais. E conhecendo os pressupostos, que segundo o PS são baseados nas previsões económicas da Comissão Europeia divulgadas no início de 2015, é possível ir monitorizando o comportamento das variáveis chave, para não chegar ao final da legislatura e acusar a realidade de ter superado a ficção.
Agora existem números sobre o que o PS pretende fazer. Podem ser criticados, contestados, analisados, peneirados, vistos á lupa e tudo o mais. Que assim seja: ganharemos todos em estar mais informados sobre o que os partidos pretendem fazer do nosso país.