Em Setembro de 1756, Sebastião José de Carvalho e Melo, o todo poderoso primeiro ministro de D. José I, e futuro marquês de Pombal, fundou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, aceitando a sugestão de um abastado lavrador do Douro, Luis Beleza de Andrade; de um frade dominicano, frei João de Mansilha; e de um mercador de vinhos da rua das Flores, de origem galega, D. Bartolomeu Pancobro.
Pretendia-se, com a criação da Companhia, evitar a ruína dos proprietários das vinhas que, até aí, eram explorados pelos negociantes ingleses, e, simultaneamente, defender e preservar a genuidade do vinho e, se possível, aumentar (como aumentaram) as exportações do produto.
E, concretamente, de que eram acusados os ingleses? Por exemplo: de comprarem, ao lavrador, uma pipa de vinho por 800 reis, e de a vender, em Londres, por 8.000 reis.
Mais: eram ainda acusados de adulterarem a genuidade do produto adicionando-lhe baga de sabugueiro, “com o que corrompem os vinhos com o intento de os tingir…”.
Quer dizer, os ingleses usavam a baga de sabugueiro para apurar a cor do vinho.
Ora, o marquês, além de considerar que a baga de sabugueiro adulterava a pureza do vinho, tinha uma ideia diferente quanto à sua coloração.
Que devia ser feito, mas utilizando outro vinho próprio para esse efeito. E que o vinho ideal para “dar aos do Alto Douro a cor fechada e firme que eles não têm por sua natureza própria“ eram os das suas propriedades de Oeiras que, por aquele tempo andavam a ser vendidos a 50$000 reis a pipa mas que Sebastião José se propunha vender à Companhia por apenas 36$000 reis a pipa. Foi o próprio primeiro ministro de D. José que o disse: “… ordenei ao meu feitor de Oeiras que vendesse os vinhos à Companhia sem exceder o preço de 36$000 reis a pipa…”
Mas o feitor argumentou que “os vinhos de Oeiras, trabalhados no local, como os do Alto Douro, faziam uma excessiva despesa“ e que “o preço de 36$000 reis a pipa não cobria os gastos na sua totalidade …”
E foi a própria Companhia que, com base nos preços por que anteriormente eram vendidos os vinhos de Oeiras propôs o preço dos tais 50$000 reis a pipa que o marquês aceitou com uma explicação no mínimo curiosa: “… se eu estivesse na vida particular da minha casa mandaria vender os meus vinhos a quem mos pagasse melhor mas assim (estando eu no Governo, queria ele dizer… ) aceito … “a proposta da Companhia, claro com a argumentação de que a sua missão será “tudo fazer farei para beneficio dela…“
Anos mais tarde, quando o marquês caiu em desgraça, os seus detratores, comentando este “negócio”, diziam “a gente pasma com tão ingénuo desaforo…”