O urbanismo desenfreado que, neste momento, varre, literalmente, a cidade do Porto, está, não só, a modificar a face urbana da velha urbe mas, também, em certa medida, a apagar a sua história de séculos.
Constatei isso mesmo, há dias, ao cruzar a praça da Batalha. Um “chinês” ocupa agora o espaço por onde passou um dos mais emblemáticos cafés do Porto, o emblemático “Leão d’ Ouro “, quem se lembra?
O último estabelecimento com esta designação vinha de 1913, dos alvores da República. Mas no mesmo sítio e com esse mesmo nome já existia um café desde pelo menos 1889. Vinha do tempo em que os cafés portuenses eram espaços de diálogo, de troca de ideias, onde se conspirava, politicamente falando, mas onde, também, se liam poemas pela primeira vez ou capítulos de romances ainda inéditos. Houve cafés no Porto que chegaram a rivalizar com a própria Academia tal era a elevação intelectual dos debates que se realizavam em torno das suas mesas e em que intervinham escritores, jornalistas, artistas mas também professores académicos.
O “Leão d’ Ouro“ foi um desses cafés. Mas nesse mesmo espaço, antes do “Leão d’Ouro“, aí por 1853, funcionou o lendário “café da Comuna“. O interior era modesto e algo acanhado, mas registava, todos os dias, invariavelmente, uma inusitada frequência de pessoas ligadas aos movimentos operários. Enquanto lá dentro se conspirava e se delineavam lutas e greves, cá fora os esbirros da polícia política da época vigiava atentamente quem entrava e quem saía. Foi o povo que, naturalmente, por influência das notícias que tempos antes haviam chegado de França lhe deu o nome de “café da Comuna“. Nós não sabemos, ao certo, durante quantos anos funcionou o “café da Comuna“, enquanto espaço de resistência e de combate. Provavelmente mais de trinta anos. O que sabemos é que em 1889 o espaço reabriu mas agora com nova denominação: “café Leão d’ Ouro“.
Que pena que estes pedaços da história do Porto não figurem numa simples placa colocada junto do edifício onde outrora se discutiu literatura, artes ou politica e agora se vendem simples bugigangas… chinesas.