As escadas das Sereias, no popular e pitoresco bairro de Miragaia, não muito longe do mosteiro de Monchique, tomaram o nome de um imponente palácio do século XVIII que existe ali perto e cujo portal está emoldurado por duas avantajadas figuras de sereias de opulentos seios. Foi em tempos idos a residência da influente e rica família Cunha Osório e Portocarrero. Acerca dos moradores desta casa senhorial, da qual se abarca um soberbo panorama sobre o rio Douro, conta-se uma história, que é mais anedota do que lenda mas que, nem por isso, deixa de ser curiosa.
A história é a seguinte: mos finais do século XVIII habitava a casa, João Cunha Osório Portocarrero, morgado de Melres, uma povoação nas margens do rio Douro, no concelho de Gondomar. Certa ocasião, descendo o morgado de Melres o rio, numa pequena embarcação, esta voltou-se numa curva do Douro e o fidalgo morreu afogado. Como era solteiro, o herdeiro legítimo de todos os bens do morgado de Melres, segundo a lei dos morgadios, então vigente, era um seu irmão que vivia com algumas dificuldades por não ter bens de raiz nem ofício rendoso. E é aqui que entre a tal anedota. Dizia-se que alguns criados da casa contavam a quem os quisesse ouvir, que o novo fidalgo quando assomava à varanda principal do seu palácio, ao contemplar as águas calmas do rio Douro murmurava, de si para si: “ ai rio, rio, que mataste a sede a meu irmão; e a mim a fome e o frio…”