Jorge Jesus habituou os benfiquistas a uma máxima que lhe era cara: “Não interessa como começa. É como acaba”. O problema atual dos adeptos do bicampeão é que, depois de um arranque de temporada desastroso, poucos conseguem adiar a matemática. As contas já começaram a fazer-se e são muitos simples: ou se arrepia caminho na Luz, ou esta vai ser uma época para esquecer.
Para muitos, o principal problema do Benfica é Rui Vitória. É verdade que o treinador escolhido por Luís Filipe Vieira suprir a fuga de Jesus para o rival não tem mostrado capacidades suficientes para o cargo. Até ao momento, em 12 jogos oficiais ganhou apenas sete, perdendo os restantes cinco, um deles contra o Arouca. É verdade que foi vencer ao difícil terreno do Atlético de Madrid, mas essa foi a única vitória em jogos de exigência máxima. De resto, perdeu com o FC Porto, com o Galatasaray e duas vezes com o Sporting.
A derrota do último domingo foi especialmente dura para o Benfica. Não só pela forma categórica como a equipa orientada por Jorge Jesus se exibiu no Estádio da Luz, mas por representar um falhanço em toda a linha da estratégia delineada por Luís Filipe Vieira para a presente temporada. E não falo já da forma como nunca foi capaz de antever a hipótese de Jesus rumar a um dos rivais. Refiro-me a toda forma como o Benfica, depois desse facto consumado, se tem preocupado mais em tentar atingir e desestabilizar o antigo treinador, em lugar de se preocupar em garantir ao seu sucessor todas as condições para ganhar.
O que se passou nas últimas semanas antes do derby, depois das acusações gravíssimas de Bruno Carvalho, é uma demonstração clara do erro de foco dos dirigentes do Benfica. Até se compreende que queiram desvalorizar o presidente rival, mas o que já não se percebe é que o façam, preferindo atacar o ex-treinador com processos mais ou menos estapafúrdios em tribunal. Deixar pairar no ar, sem desmentir de forma enérgica e categórica, durante semanas a fio, a acusação de que o Benfica corrompe árbitros com jantares na Catedral da Cerveja e optar por exigir em tribunal uma indemnização pornográfica ao ex-treinador com quem o clube não quis ou não soube renovar é um erro crasso. Fortaleceu o espírito competitivo de Jesus que na Luz já deviam conhecer de ginjeira. E fragilizou Rui Vitória, que continua a ver a famosa “estrutura” preocupada apenas com o seu antecessor. Para um treinador que demonstra carências a vários níveis, ficar sozinho no campo de batalha é, como se tem visto, fatal.
Voltando ao princípio e às contas que se fazem no fim, é evidente que isto do futebol dá muitas voltas. Falta muito campeonato pela frente e várias competições para disputar. Mas o que resulta claro deste início de temporada é que, se não arrepiar caminho, este Benfica arrisca-se a ver a época do “rumo ao tri” revelar-se numa descida ao inferno. Com a agravante de o próximo capítulo da história poder acontecer já daqui a um mês, na deslocação a Alvalade, para a Taça de Portugal. Mais uma derrota e Luís Filipe Vieira poderá deixar de se preocupar com o mercado de Janeiro. É começar já a pensar na próxima temporada.