O pianista Pedro Burmester passou uma década sem pisar um palco no Porto como forma de boicotar Rio Rio pela sua ausência de políticas culturais. Nas ruas, houve protestos contra a sua tentativa de privatizar o Teatro Municipal Rivoli. Catarina Martins, líder do Bloco, chegou a dizer que o ex-autarca “é hostil à cultura e aos criadores artísticos da cidade do Porto”.
É, naturalmente, estranho, ver este ser que é suposto ser ‘acultural’, educado no Colégio Alemão a pegar numa guitarra para dedilhar Pedra Filosofal, o poema de António Gedeão, ou acompanhar, na bateria, a música I just wanna make love to you, de Etta James. Mas ele é assim e foi assim que a Lucília Monteiro o apanhou em 2003, no Mindelo, em Cabo Verde. Descontraído como nunca e como não costuma deixar-se fotografar.
Essa rara viagem – Rio não gosta muito de sair de Portugal e orgulha-se disso – serviu para que o então presidente da Câmara do Porto formalizasse um apoio financeiro de seis mil euros à Ilha de São Vicente, o que permitira criar a Casa do Queijo e assim melhorar as condições de produção de um dos melhores petiscos do Mindelo.
A veia solidária de Rui Rio originou grandes críticas por parte dos agentes culturais da cidade do Porto. Mário Dorminsky, então organizador do Fantasporto, lamentou a redução dos apoios da autarquia àquele festival e o investimento no queijo cabo verdiano. “O dinheiro investido aqui é mais importante do que a verba entregue ao Fantasporto”, reagiu secamente Rui Rio.
A cultura portuense nunca lhe perdoou este espisódio, como outros. Mas, depois disso, ele continuou a vencer eleições na Invicta. E a dar música a quem lhe apeteceu.