O programa Contra-Informação acabou na televisão generalista há mais de 15 anos, em novembro de 2010, depois de 14 anos de emissões. Vi-o na SIC pela primeira vez e vi-o muitas vezes na RTP1. Mas a minha estreia em programas do género foi em 1996, em Bordéus, quando era estudante Erasmus. Em França, no Canal +, o Contra-Informação tinha um nome menos sugestivo: Guignols de l’Info (Bonecos da Informação).
Algumas das alcunhas escolhidas para os bonecos da Mandala (a produtora portuguesa) foram tão acertadas que sobreviveram ao próprio programa, ganhando uma certa consistência e até existência política. Foi o que aconteceu com Regressado Silva (Cavaco), ao voltar ao poder depois de 10 anos de ausência. Ou com Cassete Jerónimo (de Sousa), que tinha fama de debitar o mesmo discurso comunista de sempre em todos os atos públicos. Ou com José Trocas-te (Sócrates), Maria de Ninguém (Belém) ou Santana Flopes (Lopes). Num ou noutro momento veio a confirmar-se que os nomes lhes serviram como uma luva.
As personagens diziam coisas corajosas e ajudavam os portugueses a fazer a leitura política da realidade, revelando pormenores que nem sempre eram conhecidos do grande público. Durantes uns tempos, fez furor uma dupla que, no écran, como fora dele, tentava recuperar uma aliança política antiga: o professor Martelo e o Paulo Tortas.
Na vida real, Marcelo e Portas queriam fundar uma nova AD, unindo PSD e CDS contra António Guterres, mas tudo o que conseguiram foi uma espécie de zanga monumental, à imagem do que era a sua relação passada. Lembre-se que foi entre estes dois a famosa história da ‘vichysoise’, aqui muito bem contada por Portas e aqui comentada por Marcelo, ao minuto 38.
Num dos episódios do Contra-Informação, sobre a coligação falhada que acabou por pôr Durão Barroso à frente do PSD, Martelo dizia a Ganda Nóia (Marques Mendes): “Falando agora como analista, não há dúvida que a nova AD foi a minha mais genial criação de facto político. Parecia que existia e nunca chegou a existir”. Já Paulo Tortas confidenciava a Pobre Guedes (Nobre Guedes): “Os sonhos de poder só são dignos de mentes medíocres e pequeno-burguesas. O meu sonho era muito maior: Acabar com a carreira política do Martelo. Vinguei a vichysoise com uma taça de veneno. Já posso morrer descansado”.
Não ‘morreu’ claro. Nenhum dos dois ‘morreu’, aliás. Depois disso, Portas foi várias vezes ministro e chegou a número dois de outros governos de coligação, com outros no lugar do professor. E Marcelo foi eleito Presidente da República, o mais elevado cargo que podia desejar, embora vagamente decorativo. Pena é que, com a saída de Paulo Portas da liderança do CDS, a dupla do Contra-Informação não possa ser reeditada nos próximos tempos. No mínimo, seria uma espécie de terapia anti-tédio.