Na sombra das ruas, onde o silêncio ressoa histórias de abandono, os sem-abrigo vivem numa vulnerabilidade extrema. A ausência de uma habitação e de cuidados essenciais torna cada dia um desafio para preservar a saúde e a dignidade. Como cuidar daqueles que a sociedade tantas vezes esquece?
A resposta poderá estar na fusão do toque humano com a inovação tecnológica. Os profissionais de saúde e os enfermeiros, em particular, com o seu conhecimento, sensibilidade e dedicação, assumem um papel essencial. Cada simples gesto que garanta os cuidados básicos, como a higiene dos pés ou o corte das unhas até à massagem e ao alívio da dor, transcende o tratamento físico. É um ato de respeito, que promove a autoestima e a mobilidade, com vista à reintegração social.
No âmbito da formação, o ensino deve abraçar esta visão integrada. É fundamental que as escolas e universidades capacitem os futuros enfermeiros para dominar tanto a inteligência artificial (IA), como as competências humanas essenciais. Desta forma, estarão preparados para enfrentar os desafios complexos do cuidado aos sem-abrigo, unindo o rigor técnico ao compromisso com a pessoa.
No dever ético de cuidar dos mais vulneráveis, a tecnologia, em particular a IA, surge como um recurso valioso. Longe de substituir a proximidade humana, a IA pode fortalecer a resposta dos profissionais de saúde, permitindo um acompanhamento mais eficaz e acessível. A capacidade de identificar precocemente lesões e complicações representa um enorme desafio, exigindo soluções inovadoras que permitam respostas mais úteis. A análise de dados poderá ser decisiva para um mapeamento mais preciso das necessidades destas pessoas, tornando possível intervenções mais ajustadas à sua individualidade. Há um longo caminho a percorrer, para garantir que as populações mais vulneráveis recebam acompanhamento contínuo, sobretudo em contextos onde os recursos são escassos, no entanto, é possível transformar esta visão em realidade.
Esta combinação entre inovação e humanismo desafia os modelos de cuidados. Não se trata apenas de tratar sinais e sintomas, mas de assumir um compromisso com a dignidade e o direito de cada pessoa a ser cuidada. Pequenos gestos podem transformar vidas e romper ciclos de exclusão.
Será que estamos a conduzir as novas tecnologias para transformar cada gesto de cuidado num avanço concreto para a valorização da dignidade, também, dos sem-abrigo? Estamos a utilizar a evolução da IA e a intervir de forma eficaz, ou apenas a acompanhar as mudanças? E, sobretudo, estamos preparados para investir na humanização dos cuidados, de modo que cada ferramenta tecnológica se traduza num apoio concreto para os mais vulneráveis?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.