A palavra sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se tornar uma exigência, tanto por parte dos consumidores, como por parte de entidades governamentais. No setor vitivinícola, sentimos esta responsabilidade como algo ainda mais profundo, uma vez que a vinha é um organismo vivo, intimamente ligado ao ecossistema que a rodeia, logo, a forma como hoje cuidamos dela, e de todo o ecossistema envolvente, determinará a qualidade do vinho que beberemos no futuro.
A sustentabilidade não se limita a cumprir boas práticas no campo, mas estende-se a toda a cadeia de valor do produto. O compromisso que se inicia na gestão equilibrada dos solos e na preservação da biodiversidade, passa pela redução do desperdício na adega e por escolhas conscientes no embalamento e na distribuição, culmina com a consciencialização do consumidor final, que tem um papel fundamental ao fazer as suas escolhas.
O primeiro passo para um vinho sustentável começa no respeito pelo terroir. Praticar uma viticultura de mínimo impacto, privilegiando o uso de adubos orgânicos e reduzindo ao máximo a utilização de produtos fitofarmacêuticos, é essencial. O uso controlado de água através de sistemas de irrigação inteligentes e a aposta em castas autóctones, mais resistentes às alterações climáticas, são medidas que reduzem o consumo de recursos naturais. Além disso, fomentar a biodiversidade, mantendo sebes naturais e incentivando a presença de insetos polinizadores, contribui para o equilíbrio do ecossistema.
A produção de vinho é um processo intensivo em energia e recursos, mas as adegas mais modernas estão a reinventar-se. A integração de energias renováveis, como painéis solares, permite reduzir significativamente a pegada de carbono. A reutilização da água e o aproveitamento de subprodutos, como grainhas e engaços para compostagem ou cosmética, são estratégias essenciais para a promoção de uma economia mais circular.
O conceito de sustentabilidade também está presente no produto final. Valorizar a autenticidade do vinho, sem recorrer a processos que descaracterizem a sua essência, é fundamental. A embalagem representa uma parte significativa do impacto ambiental do vinho. A tendência para garrafas mais leves, a utilização de vidro reciclado ou reutilizado e a adoção de formatos alternativos, como bag-in-box e latas recicláveis, demonstram um esforço do setor para reduzir a sua pegada de carbono. Além disso, projetos inovadores como a reutilização de garrafas antes da reciclagem, através de sistemas de recolha e lavagem, começam a ganhar terreno e podem representar uma verdadeira revolução na indústria. O recurso a rolhas de cortiça certificada representa, também, uma opção mais sustentável e amiga do ambiente.
Mas a sustentabilidade do vinho não termina na garrafa. O consumidor tem um papel fundamental na escolha de produtores que implementam práticas sustentáveis e que apostam na reciclagem das embalagens. A educação sobre vinhos biológicos, naturais e de produção ética é essencial para que a sustentabilidade seja uma prioridade em toda a cadeia de valor.
O caminho para um setor vitivinícola mais sustentável é feito de inovação, compromisso e através de uma mudança de mentalidade. Da vinha ao copo, cada escolha conta para garantir que as próximas gerações possam continuar a brindar com consciência e respeito pelo planeta.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.