Hoje assinala-se o Dia Mundial da Doença de Parkinson, uma doença neurodegenerativa de evolução progressiva e crónica que afeta os movimentos, que se manifesta sobretudo a partir dos 60 anos e que afeta cerca de 20 mil portugueses, com 1800 novos casos ao ano. É uma doença do cérebro, causada pela falta ou diminuição da dopamina, um importante neurotransmissor que leva mensagens do cérebro para diversos órgãos e partes do corpo. E são várias as razões que devem convocar a reflexão sobre a Doença de Parkinson hoje e todos os dias:
(i) É a segunda doença neurocognitiva mais comum a nível global (apenas ultrapassada pela Doença de Alzheimer) e que cresce mais rapidamente, impulsionada pelo aumento da esperança média de vida e pelo envelhecimento da população: segundo a Parkinson’s Europe, até 2050 os casos vão duplicar a cada ano;
(ii) A Doença de Parkinson provoca um aumento de 18% nas mortes prematuras e nas incapacidades físicas e psicológicas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde;
(iii) Esta doença foi descoberta em 1817 por James Parkinson, médico inglês (nascido em 11 de abril de 1755) que descreveu os sintomas n’ “Um Ensaio sobre a Paralisia Agitante”. Mas passados 208 anos, e apesar dos avanços científicos e clínicos, a Doença de Parkinson ainda não tem causa definitiva, nem cura.
A inexistência de cura não implica uma sentença, e menos ainda inação do doente e da medicina. Sabemos que é uma doença multifatorial, que envolve fatores individuais, genéticos e ambientais, e que muito pode ser feito, considerando o ciclo da doença. A prevenção tem um papel de extrema importância, a reação atempada é essencial e a reabilitação importa maior qualidade de vida.
Prevenir a Doença de Parkinson passa pela promoção de um envelhecimento cerebral saudável desde cedo. Porque ainda que a prevalência seja claramente superior a partir dos 60 anos, cerca de 10% dos casos surgem antes dos 50 anos e 5% antes dos 40. Cuidado com a alimentação, atividade física constante, higiene do sono e ginasticar o cérebro, são peças-chave para a prevenção de uma doença ainda sem diagnóstico precoce – apesar de avanços consideráveis na busca de soluções que permitam diagnosticar a doença antes de provocar danos significativos no sistema nervoso.
Atualmente, o Parkinson é diagnosticado perante sintomas clínicos, ou seja, já existindo danos neurológicos significativos ou graves. Face a sintomas como tremores, lentidão dos movimentos, rigidez muscular, dificuldades em caminhar, problemas do sono, perda de olfato, devemos consultar de imediato um neurologista. A reação rápida permite evitar a progressão da doença, e faz toda a diferença. Os tratamentos atuais são eficazes, e permitem melhorias nas várias dimensões da vida do paciente afetadas pelo Parkinson.
Mas é preciso ir mais além da medicação que, sendo muito importante, não chega. Acredito realmente na reabilitação, através de programas individualizados que respondam às circunstâncias de cada pessoa. Que incluam terapia da fala e ocupacional, atividade física, acompanhamento nutricional e atividades complementares de bem-estar (como ioga, meditação, etc.). Acredito, também, que só uma abordagem integrada cérebro-mente é realmente eficaz na melhoria da qualidade de vida de quem tem Parkinson. A sua saúde mental é seriamente afetada, existindo uma relação direta entre esta doença e a depressão e as perturbações de ansiedade. Sem esquecer a saúde mental dos cuidadores, porque o “contágio emocional” é uma realidade.
O cérebro, como centro do nosso sistema nervoso, tem um papel vital nas funções neurológicas, na regulação das emoções e comportamentos, na nossa saúde integral. É por isso que dedico os meus dias à criação de um Hospital do Cérebro, para que lifespan e healthspan sejam, um dia, sinónimos.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.